Temer tratou a saída constitucional do impeachment como uma porta giratória
Josias de Souza
31/08/2017 23h48
Quando Dilma sofreu o impeachment, o petismo dizia que as ruas exigiriam a sua volta. Um ano depois, nem o PT deseja tamanho pesadelo. Quando a Presidência lhe caiu no colo, Michel Temer dizia que uma ponte para o futuro levaria o país à prosperidade. Hoje, o futuro do seu governo é um passado que não passa. Se dependesse das ruas, Temer também seria ex-presidente. Mas ele carrega algo que faltou à sua antecessora: uma experiência parlamentar de três décadas.
Com a corda no pescoço, Temer terceirizou sua gestão ao arcaísmo. Fornece, em cargos e verbas públicas, os recursos para alimentar as forças congressuais que, se quisessem, demitiriam mais um presidente da República. Dilma tentou a mesma coisa. Mas ela fazia cara de nojo. E os congressistas puxaram a corda.
Muita coisa aconteceu em um ano. Mas quando a posteridade puder falar sobre esse período desprezando os detalhes, dirá que Temer tratou a saída constitucional do impechment como uma porta giratória. Manteve o país rodando em torno dos seus defeitos como um parafuso espanado. Continuamos às voltas com o desemprego, a ruína fiscal e a roubalheira. Dilma só não acusa Temer de plágio porque sua relação com a verdade é conflituosa.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.