Temer atinge o vácuo moral ao dar Cade ao PP
Josias de Souza
12/09/2017 03h48
O governo de Michel Temer revela-se intelectualmente lento e moralmente ligeiro. E essas duas velocidades são insultuosas. A lentidão intelectual impede o presidente e seus operadores de notar que há uma fome de limpeza no ar. A ligeireza moral leva-os a governar como crianças que brincam no barro depois do banho. Em sua penúltima temeridade, o Planalto acomodou Alexandre Cordeiro Macedo na poltrona de superintendente-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade.
Conselheiro do Cade há dois anos, Alexandre traz na testa a marca do Zorro da indicação política. É apadrinhado do Partido Progressista, campeão no ranking de encrencados no petrolão. Conta com o aval do deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), um investigado a quem Temer confiou a liderança do governo na Câmara. Dispõe também do apoio de Ciro Nogueira, presidente do PP, outro investigado da Lava Jato que acaba de ser jogado no ventilador da JBS como suposto beneficiário de uma joeslyana de R$ 500 mil.
Alega-se no Planalto e no PP que Alexandre Cordeiro é tecnicamente preparado. Ainda que fosse, o problema é outro. Temer já havia confiado a presidência da Caixa Econômica Federal ao PP. Admita-se que Temer pode conviver com o PP por obrigação protocolar. Qualquer imbecil entenderia isso. Mas ir atrás do PP, cortejar o PP, entregar o Cade ao PP depois de já ter sacrificado a Caixa… Parece demasiado.
Temer ainda não se deu conta. Mas seu governo já tocou o vácuo moral. Nesse estágio, todas as decisões tendem a se converter em matreirice política rasteira, sem qualquer compromisso com o interesse público. A impopularidade do governo é um tributo à sua mediocridade.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.