Com nó no pescoço, Senado tira Aécio da forca
Josias de Souza
17/10/2017 20h18
Se o Brasil fosse um país lógico, a precariedade da situação penal de Aécio Neves levaria o Senado a manter as sanções cautelares impostas ao tucano pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal. Mas foi justamente a debilidade do seu prontuário que devolveu a Aécio o mandato e a liberdade noturna.
Num plenário repleto de encrencados, os senadores investigados, denunciados e réus tiraram Aécio da forca para se proteger da corda. Muitos alegaram em discursos que defendiam o respeito à Constituição, não os interesses de Aécio. Lorota. Movidos pelo instinto de sobrevivência, protegiam o próprio pescoço.
Para que o plenário do Senado retirasse Aécio do poste, pelo menos 41 senadores precisavam rasgar a decisão do Supremo. Vitaminada pela banda do lodo, a bancada pró-impunidade cravou 44 votos no painel eletrônico, 17 dos quais enrolados na Lava Jato. A esse ponto chegou Aécio. Elegera-se senador com 7 milhões de votos. Na disputa presidencial de 2014, amealhara 53 milhões de votos. Agora, livrou-se do nó na garganta por uma diferença de três escassos votos.
Aécio foi salvo pela banda notória do Senado, capitaneada pelos caciques peemedebistas Renan Calheiros, Romero Jucá e Jader Barbalho. É a essa trinca tóxica que o ex-presidencial limpinho do PSDB irá se juntar sempre que ouvir alguém gritar: "Vá procurar a sua turma!" O eleitorado talvez não se anime a devolver Aécio ao Senado em 2018. Com alguma sorte, o ex-campeão de votos pode cavar na Câmara uma trincheira para retardar seu encontro com uma sentença judicial condenatória.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.