Luislinda queria escravizar contribuinte brasileiro
Josias de Souza
03/11/2017 06h12
Responsável pela pasta dos Direitos Humanos, a ministra Luislinda Valois não se revelou uma campeã das causas dos fracos e oprimidos. Mas assimilou rapidamente os maus hábitos dos poderosos. O Estadão conta que Luislinda escreveu 207 páginas para defender o seu direito de receber dois contracheques: o de ministra e o de desembargadora aposentada. Coisa de R$ 61 mil. Pela lei, nenhum servidor pode receber além do teto de R$ 33.700. Mas Luislinda quer furar o teto.
Filiada ao PSDB, Luislinda anotou no seu documento que "se assemelha ao trabalho escravo" o teto que limita seu salário a R$ 33.700 —noves fora o cartão coporativo, a moradia funcional, o carro oficial, o jato da FAB e outras mordomias. Ganha uma biografia de Zumbi dos Palmares quem for capaz de citar uma frase de Luislinda contra a portaria editada pelo governo para dificultar o combate ao trabalho escravo.
Alguém poderia cantarolar para Luislinda um trecho da música Maria Moita, de Carlos Lyra. Diz a letra: "Vou pedir ao meu Babalorixá / Pra fazer uma oração pra Xangô / Pra pôr pra trabalhar / Gente que nunca trabalhou." Contaminada pelo refrão, Luislinda talvez não volte nunca mais a tentar escravizar o contribuinte brasileiro, que não merece ser acorrentado aos seus privilégios.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.