Loures sem Temer é como o Piu-piu sem Frajola
Josias de Souza
11/12/2017 18h46
Foi ao banco dos réus Rodrigo Rocha Loures. Denunciado junto com Michel Temer, o homem da mala, como ficou conhecido, será processado por corrupção passiva desacompanhado do presidente, já que a Câmara congelou as investigações contra o inquilino do Planalto. Como na música de Claudinho e Bochecha, interpretada por Adriana Calcanhoto, Rocha Loures sem Temer é como "avião sem asa, fogueira sem brasa, futebol sem bola, Piu-piu sem Frajola."
Dias atrás, o delegado Fernando Segovia, indicado por Temer para a direção-geral da Polícia Federal, dissera que uma mala com propina, como a que Rocha Loures recebeu da JBS, recheada com R$ 500 mil, não permite saber se houve ou não corrupção. Segovia ignorou relatório no qual a PF anotou que as evidências apontam, "com vigor", para a participação do próprio Temer nos malfeitos que conduziram à filmagem de Rocha Loures recebendo a propina.
Deve-se a abertura da ação penal contra Rocha Loures a uma decisão do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. No mesmo despacho em que enviou as investigações contra Temer ao freezer, Fachin remeteu o pedaço da denúncia referente a Rocha Loures para a primeira instância do Juduciário. Fez isso porque o ex-assessor da Presidência não dispõe de foro privilegiado.
Desde então, os advogados de Temer e do próprio Rocha Loures tentam reverter no Supremo o desmembramento determinado por Fachin. Alega-se que a manutenção do Piu-piu na grelha da primeira instância desvirtuará a decisão da Câmara, já que o Frajola será inevitavelmente investigado por tabela. A palavra final sobre os recursos será do plenário da Suprema Corte.
Enquanto arrasta a tornozeleira eletrônica na sua prisão domiciliar, Rocha Loures deve desperdiçar o seu tempo treinando o depoimento que terá de prestar no curso da ação penal aberta pelo juiz Jaime Travassos Sarinho, de Brasília. Decerto dirá que não reconhece o homem filmado correndo com a mala pelas ruas de São Paulo. Alegará que leva sustos frequentes diante do espelho. Se lhe perguntarem sobre Temer, indagará: "Um barbudo, gorducho, casado com uma feiosa?" A alternativa à fantasia seria Piu-piu fazer uma delação premiada para denunciar o Frajola.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.