Silêncio de Michel Temer sobre a PF fala por si
Josias de Souza
12/02/2018 19h09
De passagem por Boa Vista, Michel Temer falou pelos cotovelos. Foi à capital de Roraima atraído pelo drama dos refugiados venezuelanos. Mas enganchou em sua prosa os autoelogios usuais, realçando o caráter reformista de sua administração.
De repente, em meio a uma entrevista, Temer foi abalroado por uma pergunta sobre o diretor-geral da Polícia Federal: Fernando Segovia ainda tem condições de permanecer no cargo? O presidente deu a conversa por encerrada. Os repórteres insistiram. Temer apenas sorriu, acenou e se foi.
Segovia não virou uma interrogação de graça. O personagem voltou às manchetes depois de insinuar à Reuters que o inquérito sobre portos, estrelado por Temer, se encaminha para o arquivo. Tornou-se uma pauta obrigatória dos jornalistas ao deixar no ar a impressão de que o delegado responsável pela investigação, Cleyber Lopes, pode ser repreendido e até suspenso de suas funções.
Temer não tem nada a dizer. O diabo é que, em casos assim, nada significa tudo. O silêncio do presidente, por eloquente, fala por si. Mas não precisava sorrir. Sobretudo agora que a corrupção, já diagnosticada pela Lava Jato como uma cleptomania, atingiu o seu ápice. Desapareceu até o faro do detetive que comanda a Polícia Federal.
Numa hora dessas, o ideal do brasileiro é que até a hiena pense dez vezes antes de soltar um sorriso na cara dos outros.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.