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Arthur Virgílio chama prévias do PSDB de ‘farsa’

Josias de Souza

17/02/2018 04h57

O prefeito de Manaus Athur Virgílio chamou de "farsa" as prévias que disputaria com o governador de São Paulo Geraldo Alckmin, para definir quem representará o PSDB na sucessão presidencial. Em áudio enviado a um grupo de WhatsApp integrado por ex-presidentes da legenda, Virgílio acusou Alckmin de protelar o embate interno por "medo". Declarou: "Essa postergação foi ficando tão grosseira a ponto de significar a inviabilização de qualquer prévia decente. E eu não me submeterei a pantomima. Não me submeterei a nada que signifique uma farsa."

O áudio foi encaminhado nesta sexta-feira. Os destinatários estavam incumbidos pelo PSDB de arrematar as regras e o calendário para a realização da eleição interna e do debate que a precederia. O blog obteve cópia da gravação. Logo na abertura, Virgílio avisa aos grão-tucanos: "Meus amigos e companheiros, eu vou abrir meu coração para vocês." Tomado pelas palavras que soaram a seguir, o rival de Alckmin chutou o balde, como se costuma dizer no português das ruas. Ouça abaixo:

A certa altura, Virgílio referiu-se aos queixumes que ouviu de um dos ex-presidentes do PSDB, Pimenta da Veiga, por ter criticado FHC publicamente. "Não tenho que dar satisfações para ninguém sobre eu criticar ou não o Fernando Henrique. Critico o Fernando Henrique quando eu quiser. Ele não é um ancião que precisa ser protegido nem é uma pessoa que esteja fora das suas faculdades mentais."

Para Virgílio, FHC errou ao flertar com a candidatura presidencial de um "Chacrinha pós-moderno", como se referiu ao apresentador Luciano Huck, que anunciou nesta semana, pela segunda vez, que desistiu de entrar na disputa. "Não posso concordar com uma coisa dessas", disse Virgílio sobre o comportamento do presidente de honra do PSDB. "..Propõe um candidato de fora do seu partido, desprezando até o próprio Geraldo. […] E me desrespeitando. Poxa, sempre me dediquei muito a ele."

Noutro trecho, Virgílio mencionou o senador Tasso Jereissati, recém-saído de uma interinidade no comando do PSDB. "Segundo li no jornal, ele teria sido escolhido para me acalmar. Meu Deus, não é melhor uma pessoa botar uma pimenta para o Geraldo despertar um pouco mais. Não preciso de ninguém para me acalmar. Estou tranquilo. Minha pressão é 12 por 8."

Em reunião de sua Executiva Nacional, o PSDB havia definido às vésperas do Carnaval que promoveria um único debate entre Alckmin e Virgílio, no dia 1º de março. Na sequência, em 4 de março, a legenda realizaria, finalmente, as prévias. Mas a data já foi adiada um par de vezes. Daí o incômodo de Virgílio: "Nós estamos no dia 16 de Fevereiro, e temos quase nada de fim de semana até o dia 4 de março. Eu estou sem saber se o dia é 4, 11 ou 18" de março.

Diante da fluidez do calendário, Virgílio passou a questionar a validade da disputa interna: "O que significaria uma prévia agora?, eu pergunto a todos vocês. Significa [que teremos apenas] um debate? Marcado onde? Mediado por quem? Marcado pelo Geraldo Alckmin? Por que por ele? Por que não comigo?"

Virgílio entregara a Alckmin e a outros dirigentes partidários um documento com sugestões sobre o processo de escolha do presidenciável do PSDB. Lamentou: "Não houve nenhum comentário sobre meu documento." E voltou à carga: "…Não sei quando o Geraldo quer a prévia. Não sei se vai querer essa prévia e o debate."

Visto pelos correligionários como uma pessoa de temperamento mercurial, Virgilio utilizou na gravação um timbre de estudada serenidade. "Não tomem por desabafo", encareceu. "Isso aqui não é bolero, não é samba-canção, não é música de chifrudo."

Insinuou que Alckmin utiliza sua condição de presidente do PSDB para manejar a estrutura e as arcas da legenda em proveito. "O Geraldo quer ser candidato? Então, não tem nada que impeça, porque ele, virtualmente, tem o partido nas mãos. Dispõe inclusive dessa coisa, desse monstrengo que colocaram nas mãos dos presidentes de partido", declarou. Referia-se ao fundo público que financiará as campanhas em 2018.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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