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Sobre intervenção no Rio, trapezistas e palhaços

Josias de Souza

17/02/2018 00h43

Segundo a definição do presidente da Câmara, ao decretar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro Michel Temer deu um "salto triplo sem rede". Rodrigo Maia soou categórico: "Não dá para errar." O deputado tem razão. E a chance de dar errado é enorme. Na verdade, já começou errado. Redigido em cima do joelho, o decreto de intervenção não foi precedido de planejamento. Apresentado à imprensa, o general Walter Souza Braga Neto, nomeado interventor, não tinha o que dizer.

A intervenção tem múltiplas serventias. E a segurança pública no Rio não é a principal. Ainda que quisesse, Temer não teria como suplantar décadas de descaso nos dez meses que lhe restam de mandato. A medida, oportunista, serve de pretexto para que Temer saia de fininho do fiasco da Reforma da Previdência. Serve também para que o presidente entre de mansinho na disputa presidencial, apropriando-se de uma pauta de combate à bandidagem que ajudou Jair Bolsonaro a escalar índices superiores nas pesquisas eleitorais.

A metáfora circense de Rodrigo Maia é boa porque intervenção é mesmo como o trapézio. Os envolvidos precisam confiar um no outro de olhos fechados. Não é o que se observa em cena. O próprio presidente da Câmara levou o pé atrás quando foi informado sobre a novidade, na noite de quinta-feira. De resto, os espetáculos do Gran Circo Brasil são muito repetitivos: há sempre meia dúzia de trapezistas e 200 milhões de palhaços.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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