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Não é justo falar mal de Bolsonaro e alisar eleitor

Josias de Souza

08/03/2018 03h16

Depois de examinar o discurso de Jair Bolsonaro que, por frequentar o topo das pesquisas eleitorais, representa o que parte da plateia vê de melhor na corrida sucessória, uma conclusão se impõe: um pedaço expressivo do eleitorado brasileiro parou de evoluir. No Brasil, o bom senso virou uma grande utopia.

Bolsonaro discursou no ato de filiação ao Partido Social Liberal (PSL). Foi nos momentos em que parecia fora de si que o presidenciável mostrou de forma mais nítida o que tem por dentro. Levou a plateia ao delírio quando fez troça com seu sobrenome do meio. "Eu sou o Messias", disse. "Jair Messias Bolsonaro."

Na área da segurança pública, sua prioridade é liberar as armas. Apoiado pela Bancada da Bala, deseja vitaminar o grupo. "Quem sabe teremos aqui a bancada da metralhadora", vaticionou, em meio a rajadas de risos. "Violência se combate com energia e, se necessário, com mais violência", ensinou.

No rol de inimigos de Bolsonaro, "marginais" e "vagabundos" dividem espaço com os homossexuais. "Um pai prefere chegar em casa e ver o filho com o braço quebrado no futebol, e não brincando de boneca", declarou, antes de dar de ombros para a decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu a união homoafetiva. "Casamento é entre homem e mulher. E ponto final".

Traçou como objetivo político alijar a esquerda do mapa. "Quem reza por essa cartilha de esquerda não merece conviver com os bens da democracia e do capitalismo", filosofou. Seu modelo é Donald Trump, "um exemplo para nós seguirmos." A audiência ouvia o candidato em êxtase. De vez em quando, afagava-lhe os tímpanos: "Mito, mito, mito."

Bolsonaro se definiu como opção de "extrema-direita". Ainda não notou que o problema do Brasil há muito deixou de ser de esquerda ou direita. O problema é quem o eleitor deseja colocar por cima. Tomada pelas pesquisas, a maioria se divide entre Bolsonaro, um defensor de torturadores, e Lula, um corrupto de segundo grau.

Não fica bem pensar mal do Bolsonaro e usar luvas de renda para falar dos eleitores. É certo que o presidenciável do PSL simboliza a escassez de reflexão. Mas o maior déficit localiza-se entre as orelhas dos eleitores que, a essa altura, ainda confundem um certo candidato com o candidato certo.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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