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Assassinato de vereadora desafia a intervenção

Josias de Souza

15/03/2018 16h20

Duas frases de Michel Temer sobre o fuzilamento da vereadora Marielle Franco: 1) Ela "fazia manifestações, trabalhos com vistas a preservar a paz e a tranquilidade na cidade do Rio de Janeiro. Por isso, aliás, nós decretamos a intervenção, para acabar com esse banditismo desenfreado que se instalou naquela cidade por força das organizações criminosas." 2) "Estamos no Rio de Janeiro para restabelecer a paz, restabelecer a tranquilidade. […] Não destruirão o nosso futuro; nós destruiremos o banditismo antes."

O presidente da República ainda não se deu conta. Mas ninguém olha para o Rio de Janeiro pensando no futuro. Ironia sinistra: O escritor Stefan Zweig, autor de 'Brasil, País do Futuro', suicidou-se por não aguentar o presente. Ao decretar intervenção federal na segurança do Rio, Temer trouxe o presente trágico da cidade e do Estado para o seu colo. O banditismo, ainda "desenfreado", não pára de produzir violência e mortes. E acaba de empurrar para dentro do Palácio do Planalto os cadáveres da vereadora Marielle e do motorista dela, Anderson Pedro Gomes.


O mandato de Temer termina em dezembro. Menos de dez meses! Nem por mágica o presidente conseguiria "acabar com o banditismo" em tão pouco tempo. Também não cumprirá a promessa de "restabelecer a paz e a tranquilidade" no Rio. Mas Temer ganhou um desafio mais urgente: ou providencia rapidamente o esclarecimento do duplo assassinato que estarreceu o país ou tranformará os últimos meses de sua administração num inferno.

No decreto de intervenção federal, Temer escreveu que o general-interventor Braga Netto está subordinado diretamente ao presidente da República. Foi como se dissesse: "Quem manda na segurança do Rio agora sou eu." Ao fuzilar a vereadora Marielle às vésperas do aniversário de um mês da intervenção, os criminosos informaram a Temer que continuam dando as cartas. Em português claro: a bandidagem desafiou o presidente. Em vez de se preocupar com a destruição do futuro, Temer precisa cuidar da construção do seu presente. A resposta é para ontem.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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