Instituto Lula recorre a vaquinha contra falência
Josias de Souza
15/03/2018 14h47
Às voltas com uma fuga de doadores e um cerco da Receita Federal, o Instituto Lula flerta com a falência. Para adiar o fechamento das portas, a entidade inaugurou nesta quinta-feira uma vaquinha eletrônica. Pede doações pela internet. Informa que precisa de R$ 720 mil para bancar seus gastos por mais seis meses. A ruína financeira da entidade se agrava no instante em que a derrocada moral aproxima seu patrono da cadeia.
"Criei uma empresa que está indo à falência", disse ex-presidente petista no livro-entrevista "A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam", que será lançado nesta sexta-feira. "O instituto hoje não recebe um tostão de ninguém porque a Receita Federal multou a gente em R$ 18 milhões, numa operação cata-piolho que eles estão fazendo".
Ao tratar um instituto que deveria operar sem fins lucrativos como "empresa", Lula ajuda a entender o que se passa. Auditores do fisco varejaram a contabilidade da entidade referente ao período de 2011 a 2014. Constataram "desvio de finalidade". Entre os "piolhos" que a fiscalização catou no Instituto Lula estava, por exemplo, o repasse de R$ 1,3 milhão para a G4 Entretenimento.
Trata-e de uma empresa pertencente a Fábio Luís, filho de Lula. Tem como sócio Fernando Bittar, dono do sítio de Atibaia, que Lula utiliza como se fosse dele. De acordo com a Receita, não houve prestação de serviço, mas mera transferência de recursos para Lula ou parentes. O instituto contesta a fiscalização. Mas amargou a cassação de sua isenção fiscal. Afora a multa, a Receita cobra retroativamente os impostos.
No período fiscalizado, o Instituto Lula viveu o seu apogeu arrecadatório. Amealhou cerca de R$ 35 milhões em doações. As contribuições mais vistosas vinham de empresas que foram fisgadas pela Lava Jato —logomarcas como a Odebrecht e a OAS, por exemplo. Lula, como de praxe, faz pose de vítima. Afirma que a Receita dispensa à sua "empresa" um tratamento mais draconiano do que o dispensado pelos Estados Unidos ao governo de Havana.
"É bloqueio mais feroz do que aquele que está sendo feito em Cuba há 60 anos", declarou Lula no livro. "É para não deixar sobreviver. É uma estratégia de asfixiar economicamente." Tomado pelas palavras, Lula parece enxergar a vaquinha iniciada nesta quinta-feira como uma espécie de extrema-unção: "Qual é o empresário que vai querer dar dez reais para o instituto? Por que tem que dar e contabilizar. Quem vai dar? Não vai dar."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.