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Solto, Paulo Preto já não está ‘ferido na estrada’

Josias de Souza

11/05/2018 19h34

Preso desde 6 de abril, Paulo Preto, o operador de verbas ilegais do PSDB, vinha se queixando de desamparo. Enviou para fora do xadrez recados que soaram como o canto do carcará, aquele pássaro que pega, mata e come. Foi como se o detento quisesse renovar um aviso que emitira em 2010, quando tucanos "ingratos" fingiam que não o conheciam: "Não se deixa um líder ferido na estrada a troco de nada."

Se o alvará de soltura expedido por Gilmar Mendes revela alguma coisa é o seguinte: Paulo Preto pode estar ferido, mas não foi largado à beira da estrada. O personagem foi em cana nas pegadas da descoberta de que manteve uma fortuna em contas na Suíça. Em junho de 2016, havia o equivalente a R$ 113 milhões em quatro contas. Em fevereiro de 2017, com a Lava Jato a pino, o dinheiro bateu asas para as Bahamas.

A encrenca estava trancada no armário das pendências sigilosas do Judiciário de São Paulo, onde tudo o que se relaciona com os tucanos costuma caminhar em velocidade de tartaruga paraplégica. Súbito, num movimento que pareceu suicida, o próprio Paulo Preto enfiou as cifras suíças dentro de um processo que corre sem sigilo no Supremo. Nesses autos, ele é citado como operador de caixas clandestinas do grão-tucano José Serra, a quem a Odebrecht diz ter repassado R$ 23 milhões por baixo da mesa.

Relator do processo contra Serra, Gilmar Mendes recebeu dois pedidos de Paulo Preto: 1) Que o processo que corre na primeira instância de São Paulo suba para a Suprema Corte. A prevalecer o que foi decidido pelo Supremo sobre o foro privilegiado, é mais fácil José Serra descer para o primeiro grau. 2) Que as provas enviadas pela Suíça sejam desconsideradas. As evidências continuam em pé. Mas Paulo Preto vai se deitar em casa nas próximas noites.

Solto, Paulo Preto tende a prender a língua. A hipótese de se tornar um delator continua viva no jogo. Mas o operador do PSDB acaba de se tornar uma carta embaralhada.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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