Herdeiro de José Alencar entra no jogo de 2018
Josias de Souza
19/05/2018 03h58
O empresário Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, gigante do setor têxtil, manifestou em conversas privadas o desejo de participar da sucessão presidencial de 2018. Embora seja herdeiro de José Alencar, ex-vice-presidente de Lula, Josué migrou do MDB para o PR e se move em direção ao bloco partidário de centro-direita, que reúne DEM, PP, PRB e Solidariedade. Ele declarou a líderes do grupo que se dispõe a concorrer como vice ou até como candidato ao Planalto.
O diálogo é cuidadoso, pois o bloco dispõe de três presidenciáveis declarados: Rodrigo Maia (DEM), Aldo Rebelo (Solidariedade) e Flávio Rocha (PRB). Nenhum deles alçou voo nas pesquisas. Mas todos mantêm na raia suas candidaturas, pelo menos como um objetivo retórico.
Um dos interlocutores de Josué Gomes é Rodrigo Maia, o presidente da Câmara. Ele diz aos amigos que o bloco partidário deve atuar conjuntamente. E prevê que a definição sobre o nome do candidato deve ficar para julho. Celebra como algo muito positivo a entrada em cena do presidente da Coteminas.
A participação de Josué está condicionada à posição do PR, a legenda à qual se filiou. O ex-presidiário do mensalão Valdemar Costa Neto controla o partido. Qualquer decisão passa por ele. E Valdemar ainda não autorizou o PR a se integrar ao bloco que reúne o DEM e três partidos do chamado centrão. Também não deixou claro o que pensa sobre a participação de Josué no processo sucessório.
A prioridade de Valdemar é eleger deputados federais. O número de deputados serve de base para o rateio do fundo partidário e do tempo de TV. Quando maior a bancada, mais dinheiro e mais espaço na vitrine eletrônica. De resto, uma bancada volumosa aumentaria o poder de barganha do PR no exercício de sua especialidade: o fisiologismo.
Por todas essas razões, Valdemar diz aos correligionários que não quer "desperdiçar" verbas do fundo de financiamento eleitoral numa campanha para o Planalto. Mas o todo-poderoso do PR pode abrir uma exceção caso o desejo de participação de Josué envolva a disposição de abrir o próprio bolso. A lei permite o autofinanciamento. E o herdeiro de José Alencar dispõe de um saldo médio bem acima da média.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
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