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Chegada do 1º tucano à gaiola qualifica a faxina

Josias de Souza

22/05/2018 15h33

Ao encaminhar Eduardo Azeredo para o xadrez, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais qualificou a faxina, tornando-a menos seletiva. A cúpula miliciana do PT, incluindo Lula, foi encarcerada. A falange do (P)MDB está representada no xadrez por presidiários do porte de Eduardo Cunha, Sérgio Cabral e Geddel Vieira Lima. Até corruptores da estirpe de Marcelo Odebrecht já amargaram sua cota de cana. Faltava um tucano na gaiola. A prisão de Azeredo chega bem e vem tarde. Representa pouco se for considerado tudo o que já se descobriu sobre os seres da sua espécie. Mas já é um bom começo —sobretudo porque o PSDB vai preso junto com seu protegido.

O feitiço dos tucanos acabou enfeitiçando o ninho. Em 2005, quando se revelou que o mensalão petista tinha um DNA tucano, o PSDB meteu o malho na tesouraria petista "não contabilizada" de Delúbio Soares e passou a mão no bico de Eduardo Azeredo, que tivera a caixa de campanha anabolizada pelas mágicas do mesmo operador: Marcos Valério. Azeredo servira-se dos truques financeiros de Valério na sua malograda campanha à reeleição para o governo mineiro, em 1998. Ao livrar o filiado ilustre das labaredas de um processo ético-disciplinar, o PSDB pulou na fogueira.

Os tucanos cometeram o mesmo erro que apontavam nos petistas. Trataram com consideração quem merecia punição. Hoje, sabe-se porque agiram assim: não havia inocentes na legenda, apenas culpados e cúmplices. Como sucede em todas as agremiações partidárias, ninguém ignora os crimes cometidos ao redor nos verões passados. Azeredo renunciou ao mandato de deputado para fugir da condenação no Supremo. E nenhum correligionário se animou a representar contra ele no Conselho de Ética da legenda. Azeredo foi condenado a mais de 20 anos de cana na primeira instância. E nada.

Ex-presidente nacional do PSDB, Azeredo chega à condição de corrupto com sentença de segunda instância e ainda mantém intacto seu assento na Executiva Nacional da legenda. Como o partido não foi capaz de mostrar aos transgressores a saída de incêndio, acumulou-se entulho na entrada. O réu Aécio Neves coleciona uma ação penal e oito inquéritos. A Odebrecht enfiou R$ 23 milhões numa caixa eleitoral de José Serra, com escala na Suíça. A mesma empreiteira empurrou R$ 10,3 milhões nas arcas eleitorais clandestinas do hoje presidenciável Geraldo Alckmin. Tudo isso sem uma delação do operador Paulo Preto.

Os tucanos, como os petistas, perderam todas as oportunidades que a história lhes ofereceu para demonstrar que possuem uma noção qualquer de ética. Os PT continuará afirmando que o PSDB protege os seus corruptos. E vice-versa. A má notícia é que os dois partidos têm razão. A boa notícia é que a Lava Jato transformou a blindagem num péssimo negócio. Espalhando-se a faxina, qualifica-se a própria democracia.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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