Em dois meses, a prisão de Lula caiu na rotina
Josias de Souza
07/06/2018 20h40
Ninguém notou, exceto os devotos. Mas fez aniversário de dois meses a estreia de um espetáculo novo na política brasileira: a prisão de Lula. No início, houve sacolejos e estardalhaço. Mas a cana do líder político mais popular desde Getúlio Vargas caiu na rotina. Nada mais saudável. Consolida-se no Brasil uma prática civilizatória. O Estado passou a investigar, punir e encarcerar personagens da oligarquia política que se comportavam como se estivessem acima da lei.
Imaginou-se que Lula não seria condenado. Sergio Moro condenou. Duvidava-se que o TRF-4 fosse confirmar a sentença. O tribunal elevou a pena. Apostava-se que o STJ ou o STF dariam um jeito de evitar o encerceramento. E nada. A Lava Jato saiu invicta. Sem nenhum tremor popular ou convulsão social, a lei vai sendo cumprida.
Lula se diz perseguido. O PT o chama de preso político. Mas também estão na cadeia estrelas do MDB, como Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima. Acaba de ser preso o tucano Eduardo Azeredo. Quem não foi passado na tranca aguarda na fila. Michel Temer é virado do avesso pela Polícia Federal. Aécio Neves é empurrado para fora das urnas por nove inquéritos criminais. Antes, os oligarcas perguntavam: "Onde é que isso vai parar?" Hoje, a plateia cobra: "Quando serão presos os outros?" O problema não foi resolvido. Longe disso. Mas ficou mais arriscado praticar corrupção no Brasil.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.