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Em ‘carta aberta’, MDB esconde Temer e esquece de recordar toda a corrupção

Josias de Souza

27/07/2018 16h52

O MDB divulgou nesta sexta-feira uma "carta aberta à nação" (pode ser lida aqui). Nela, o partido reafirma a candidatura presidencial de Henrique Meirelles e pede uma nova chance: "Queremos continuar o trabalho apenas iniciado. Não tivemos tempo para implantar e desenvolver plenamente nossas propostas." A legenda acena com um governo "sem radicalismo, sem amadorismo, sem populismo". Faltou dizer "sem corrupção". Por quê? Simples: embora seus dirigentes não enxerguem culpados no espelho, o MDB é parte do lixão da política brasileira.

A carta do MDB ocupa uma página e meia. Em 12 parágrafos, o nome de Michel Temer não aparece uma mísera vez. Escondendo sua realidade, o MDB descreve uma fantasia: "Havia a necessidade de recolocar o Brasil nos trilhos. E foi o que fizemos." A verdade é que o partido tem saudades do tempo em que Temer se autoproclamava um "vice decorativo". O Brasil ia a pique, mas o MDB, entre omisso e aliviado, podia botar a culpa em alguém.

Hoje, a legenda abriga o presidente mais impopular da história. Em pesquisas com margem de erro de 2 pontos percentuais, Temer obtém a aprovação de 3%. Oito em cada dez brasileiros abominam seu governo. O Dadtafolha informa que um candidato abertamente apoiado pela alma penada do Planalto entra na corrida presidencial rejeitado por 92% do eleitorado.

Um presidente assim, reduzido a uma condição análoga à de lixo hospitalar, já não pode nem mesmo cultivar a ilusão de que preside. Daí ter virado sujeito oculto na "carta aberta" do MDB. Até maio de 2017, Temer degustava a expectativa de que o PIB chegaria ao segundo semestre de 2018 bombando, a caminho de um crescimento anual acima dos 3%.

Seria um feito notável para um governo-tampão que herdara a ruína de Dilma Rousseff (queda de – 7,2% do PIB no biênio 2016-2016). Mas tudo virou epílogo para Temer e o seu MDB depois do grampo do Jaburu. Após insultar a ética, o suposto presidente comprometeu o frágil equilíbrio. O PIB de 2018 já é projetado na cada de 1,6%, com viés de baixa.

Escrita pelo pedaço do MDB que é cúmplice de Temer, a carta anota que o brasileiro não quer ir "para a direita, nem para a esquerda". E arremata: "Henrique Meirelles será o primeiro presidente da República do MDB eleito pelo voto direto". De fato, o problema do eleitor não é de direita e esquerda. O problema é a meia dúzia que está roubando por cima e os milhões de assaltados que permanecem por baixo.

Quanto ao resto, é preciso recordar o seguinte: em 50 anos de existência, o (P)MDB disputou a Presidência da República em eleições diretas apenas duas vezes. Numa, em 1989, Ulysses Guimarães amealhou irrisórios 4,7% dos votos válidos. Noutra, em 1994, Orestes Quércia arrebanhou ínfimos 4,4%. Hoje, Meirelles roda nas pesquisas na casa de 1%. Se chegar às urnas em triunfo, será candidato a Deus, não a presidente da República.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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