Eleição expõe cansaço de materiais da política
Josias de Souza
22/08/2018 21h29
A política vive um fenômeno que, em linguagem aeronáutica, seria chamado de cansaço de materiais. Quando isso acontece com os aviões, trocam-se os modelos velhos por novos. O Datafolha sinaliza que, na sucessão de 2018, a coisa não será tão simples. Jair Bolsonaro, um modelo 1964, cor verde-oliva, está com um pé no segundo turno. Fernando Haddad, modelo 2010, ano em que Lula abriu sua fábrica de postes, vai virando um potencial adversário.
A pesquisa reforça a sensação de que a definição do primeiro turno passa pela cadeia. Lula pulou para 39%. Puxou o anti-Lula Bolsonaro para 22%. E se cacifou para içar Haddad das profundezas dos seus 4%. Hoje, 31% dos eleitores dizem que votam num poste indicado por Lula. Outros 18% afirmam que "talvez" votem. Marina e Ciro herdam parte do espólio de Lula. Mas podem sofrer baixas quando o dono da herança divulgar o seu testamento, na cela de Curitiba.
O eleitorado de Bolsonaro solidifica-se por enxergar nele, um deputado com 27 anos de mandato, a resposta para a ferrugem do sistema político. Lula se mantém como grande cabo eleitoral porque, no outro extremo, o eleitor avalia que, num saco com tanta farinha do mesmo tipo, ele ofereceu pirão aos mais pobres. O mais desesperador é que o eleitor não vê na pista de 2018 nenhum modelo genuinamente novo. Como não enxerga um jato, o brasileiro se dispõe a embarcar em qualquer teco-teco.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.