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Na TV, Meirelles vincula sua candidatura a Lula

Josias de Souza

26/08/2018 03h26

A estreia dos presidenciáveis no horário político na televisão ocorrerá no próximo sábado, 1º de setembro. Mas Henrique Meirelles (MDB) já veiculou nas redes sociais o que chama de "primeiro programa". Nele, o candidato do partido de Michel Temer recorre à mistificação para induzir o eleitor a acreditar que ele dispõe do apoio de Lula. Extraída de gravações antigas, a voz do ex-presidente petista soa na peça duas vezes. Em ambas Lula elogia Meirelles.

"Tenho muito respeito pelo Meirelles. E devo a esse companheiro", diz Lula na primeira participação involuntária. "Eu precisava de alguém competente no Banco Central", declara o cacique do PT noutro trecho. Meirelles presidiu o Banco Central durante os dois mandatos presidenciais de Lula, de 2003 a 2010. Sob Michel Temer, Meirelles foi ministro da Fazenda. Deixou o cargo há apenas quatro meses. Mas não faz questão de vincular sua imagem à figura tóxica do ex-chefe.

Além do áudio, Lula está presente no vídeo de Meirelles em fotos e vídeos. Quanto a Temer, nem sinal. O atual presidente, reprovado por sete em cada dez brasileiros, mereceu de Meirelles apenas uma citação anódina: "O mundo para mim não se divide entre quem gosta do Lula de um lado e quem não gosta. E entre quem gosta do presidente Michel Temer e quem não gosta. Para mim, se divide entre quem trabalha quando o Brasil precisa e quem não trabalha quando o Brasil precisa."

Empacado nas pesquisas na marca de 1%, Meirelles encosta sua candidatura em Lula num instante em que o candidato-presidiário do PT acaba de amealhar 39% no Datafolha. Na bica de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa pelo TSE, Lula indicará como seu substituto o petista Fernando Haddad, hoje com 4% das intenções de voto. Meirelles aproveita a transição da campanha petista para tentar tirar uma casquinha no prestígio eleitoral de Lula. O candidato revela-se capaz de tudo, menos de defender Michel Temer da má fama que o persegue na campanha de 2018.

A propaganda associa Meirelles ao vocábulo "confiança". O mote da peça é "Chama o Meirelles". Ironicamente, após realçar que foi chamado por Lula para o Banco Central, o candidato apresenta-se ao eleitor como responsável por retirar a economia do país da "UTI" em foi metida por Dilma Rousseff. "Eu sei quando e por que governos anteriores erraram", diz Meirelles no vídeo, tendo ao fundo imagens de uma Dilma transtornada, oscilando entre a carranca e uma expressão de sombrio desânimo.

Numa campanha marcada pela verba curta, o marketing de Meirelles é 100% financiado por sua fortuna. E o candidato não parece preocupado em economizar. Não faltam à propaganda inaugural as trucagens e uma certa espetaculosidade hollywoodiana —trilha animada; cenas externas; voos sobre estrada, ponte, rio e campo.

Tudo faz crer que a pujança das arcas da campanha de Henrique Meirelles será inversamente proporcional à penúria do cesto de votos do candidato, condenado a percorrer a campanha tentando se livrar da bola de ferro representada pela impopularidade de Michel Temer.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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