Caso WhatsApp revoluciona pensamento do PT
Josias de Souza
19/10/2018 16h59
A notícia de que empresários financiam ilegalmente o envio massivo de mensagens anti-PT via WhatsApp revolucionou o pensamento do Partido dos Trabalhadores sobre as prisões, as delações e o trabalho da imprensa. Em menos de 24 horas tudo o que o partido considerava como afronta ao Estado Democrático de Direito nos quatro anos e meio de duração da Lava Jato passou a ser legal, necessário e urgente.
Em sua primeira manifestação sobre o caso, o presidenciável petista Fernando Haddad disse que o rival Jair Bolsonaro "deixou rastro" que permite vinculá-lo ao esquema de difusão de mensagens. Implacável, Haddad defendeu o uso da prisão como meio de obtenção de confissões. Mesmo que disponha, por ora, apenas de uma notícia da Folha, jornal que o petismo incluía até ontem no rol da "mídia golpista".
"Se você prender um empresário desses, ele vai fazer delação premiada", declarou Haddad. "Basta prender um empresário que vai ter delação premiada e vão entregar a quadrilha toda. Nós estamos falando de 20 a 30 empresários envolvidos nesse esquema. Se prender um, em menos de dez dias a gente vai ter a relação de todos os empresários que estão financiando com caixa dois uma campanha difamatória."
Está em jogo agora, segundo o novo conceito do PT, "a sobrevivência do processo democrático." A legenda tem razão. O surpreendente é que, no ano passado, o PT pediu e obteve no Tribunal Superior Eleitoral o arquivamento da denúncia de abuso de poder econômico praticado pela chapa Dilma Rousseff-Michel Temer na eleição de 2014.
O processo foi arquivado por excesso de provas. Por um placar apertado —4 votos a 3— os ministros do TSE decidiram enterrar evidências vivas de que a Odebrecht pagara com dinheiro sujo da Petrobras o marketing que moeu adversários do PT como Marina Silva e produziu o estelionato eleitoral que reconduziu Dilma e Temer ao Planalto.
Nessa época, o PT não via no financiamento ilegal de campanhas um risco ao "processo democrático". Fraude mesmo, alardeou a legenda neste ano de 2018, é uma eleição sem Lula, um político preso que o PT tentou, sem sucesso, transformar em "preso político". Não é à toa que Jair Bolsonaro está prestes a ser eleito pela maior força política existente no país: o antipetismo. Em matéria criminal, o PT é capaz de quase tudo, menos de oferecer algo que se pareça com um mea-culpa.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.