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Bolsonaro imita Temer: ‘Não é nem réu ainda!’

Josias de Souza

20/11/2018 20h12

Após indicar para o Ministério da Saúde o deputado Luiz Henrque Mandeta (DEM-MS), investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois, Jair Bolsonaro declarou: "Olha só, tem uma acusação contra ele de 2009, se eu não me engano. …Não é nem réu ainda. O que está acertado entre nós? Qualquer denúncia ou acusação que seja robusta, não fará mais parte do nosso governo."

Corta para o Planalto. Dia 13 de fevereiro de 2017. Ardia nas manchetes a delação da Odebrecht. Michel Temer, às voltas com ministros investigados, veio aos holofotes para declarar: "Se houver denúncia, o que significa um conjunto de provas eventualmente que possam conduzir ao seu acolhimento, o ministro que estiver denunciado será afastado provisoriamente. Logo depois de acolhida a denúncia, e aí sim, a pessoa, no caso o ministro, se transforma em réu (…) o afastamento é definitivo." (assista no vídeo abaixo)

Com palavras diferentes, Bolsonaro e Temer disseram a mesma coisa. Ambos convivem pacificamente com a ideia de entregar nacos do Orçamento da União para gestores suspeitos de corrupção. A única diferença entre os dois é que Bolsonaro havia sinalizado para os seus eleitores que jamais transigiria com o malfeito. Se tivesse avisado que preencheria um pedaço da Esplanada seguindo os padrões estéticos de Temer, o capitão talvez perdesse alguns milhões de votos.

Um candidato só se conhece em uma situação: depois de eleito. Quando está pedindo votos, o que o político fala não merece 100% de crédito. Quem acredita em tudo, inbeciliza-se. O que intranquiliza no caso de Bolsonaro não é o comportamento típico, mas a velocidade com que o discurso do candidato se distancia da prática do eleito. Antes mesmo da posse, abre-se uma fresta com potencial para virar abismo.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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