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PSL se autoimola em tempo real no WhatsApp

Josias de Souza

07/12/2018 16h16

Tancredo Neves, uma das mais felpudas raposas da política nacional, era parcimonioso em suas conversas telefônicas. Deixou para a posteridade um ensinamento valioso: "Telefone serve no máximo para marcar encontro, de preferência no lugar errado." Quando o PSL, partido do novo presidente da República, entra num processo de autocombustão, destruindo-se em tempo real num grupo de WhatsApp, é sinal de que a área do cérebro dos políticos, em franco processo de redução, ficou menor do que a tela de um smartphone.

As notícias sobre o arranca-rabo virtual da bancada federal do PSL inaugura uma nova etapa do jornalismo político objetivo (veja aqui, aquiaqui e aqui). Antes, os repórteres tinham que se esfalfar para descobrir os meandros de articulações conduzidas por tecelões inescrutáveis. Agora, basta enfiar uma sonda no "grupo da bancada" para verificar que, em política, o que te dizem nunca é tão importante quanto o que escrevem no WhatsApp.

Sob holofotes, Jair Bolsonaro assegura que não meterá o seu bedelho presidencial nas disputas pelo comando das Casas Legislativas. No escurinho da internet, Eduardo Bolsonaro, o filho-deputado, informa que puxa o tapete de Rodrigo Maia por ordem do pai. Detalhista, o operador familiar do capitão justifica a própria camuflagem. "…Se eu botar a cara publicamente, o Maia pode acelerar as pautas-bombas…"

A 24 dias de vestir a faixa presidencial, Jair Bolsonaro viu-se compelido a convocar sua infantaria parlamentar para uma reunião emergencial. Tentará jogar água numa fervura que o filho, em guerra para se tornar líder partidário, contribuiu decisivamente para elevar.

Suprema ironia: um presidente que se elegeu levando a cara à vitrine das redes sociais precisa agora convencer os correligionários a fugir do smartphone. Vivo, Tancredo diria: "WhatsApp serve no máximo para dizer 'bom dia' à família, desde que seu pai não seja o presidente da República."

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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