Marun: Denúncias contra Temer não se sustentam
Josias de Souza
24/12/2018 19h51
A poucos dias do encerramento do mandato-tampão de Michel Temer, o ministro Carlos Marun, coordenador político do Planalto, voltou a erguer a voz em defesa do presidente. Declarou que Temer "é alvo de denúncias frágeis, que não se sustentam." Afirmou também que não receia a prisão de Temer, "a não ser que o Estado de Direito tenha deixado de existir no Brasil."
Marun enviou mensagem de WhatsApp ao blog a propósito de notícia veiculada no domingo (23). Nela, informou-se que Temer discutiu sua situação penal com um grupo restrito de auxiliares. O presidente avaliou que deve ser preso a partir de janeiro, após deixar o Palácio do Planalto, perdendo o foro privilegiado.
Há seis meses, o mesmo Marun que agora diz não compartilhar do receio de Temer, dissera, em entrevista ao blog, que o presidente seria submetido a "uma grande perseguição" depois que deixasse o cargo. Isso incluía o risco de prisão: "Hoje em dia qualquer um pode ser preso, principalmente no império das prisões preventivas", afirmara Marun. "O meu receio é que o devido processo legal não seja observado" (reveja no vídeo abaixo).
Marun repete com Temer o papel que desempenhou como general da tropa de Eduardo Cunha. Como deputado, ele defendeu a "inocência" do ex-presidente da Câmara, preso desde 2016, até a cassação do seu mandato. Como ministro, Marun pega em lanças pela "honra" de um presidente que coleciona nove processos judicias —três denúncias, um inquérito e cinco pedidos de abertura de novos inquéritos.
"Não existem provas contra o presidente", acredita Marun. "As únicas provas materiais que o envolvem são, na realidade, evidências da sua inocência." O ministro cita duas "provas" que atestariam a inocência de Temer.
Uma delas "é aquele áudio que o Joesley [Batista, da JBS] gravou quando esteve com o presidente durante uma hora e tentou arrancar dele alguma situação realmente constrangedora, o que não aconteceu." O grampo do Jaburu deflagrou investigações que resultaram em duas denúncias formuladas pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, a quem Temer acusava de persegui-lo.
A outra "prova" da inocência de Temer, prosseguiu Marun, é "um áudio em que o Rodrigo Rocha Loures [ex-assessor de Temer que ficou nacionalmente conhecido como 'homem da mala'] coloca ao presidente uma questão a respeito do decreto dos portos. E o presidente diz que não tem conhecimento."
Marun reiterou que "o inquérito dos portos é a investigação de um assassinato sem a existência de um cadáver." O ministro lançou um repto: "Desafio quem quer que seja a me demonstrar no texto do decreto onde existe qualquer coisa que possa beneficiar a Rodrimar" [empresa que atua no Porto de Santos].
O inquérito que Marun considera imprestável resultou na terceira denúncia contra Temer, dessa vez subscrita por Raquel Dodge, indicada pelo próprio denunciado para ocupar a chefia do Ministério Público. Além de converter Temer no primeiro presidente da história a ser denunciado três vezes, Dodge requereu a abertura de cinco inquéritos novos, filhotes da investigação sobre portos.
A despeito de todas as interrogações que assediam Temer, Marun afirmou que "o presidente é um homem honrado, que possui um patrimônio compatível com a renda de um homen que trabalhou por mais de 50 anos." Para o ministro, o presidente "não teme porque não deve. E deseja que o devido processo legal seja respeitado, para que ele possa, de uma vez por todas, provar a sua inocência."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
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