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Gleisi fala da ruína como se Dilma não existisse

Josias de Souza

26/12/2018 18h40

Às vésperas do Ano Novo, Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, ensaia um estilo de oposição inovador, com viés humorístico. A novidade está presente em duas notas que Gleisi veiculou no Twitter. Nelas, a dirigente petista faz considerações sobre a ruína econômica e sua consequência mais nefasta: o desemprego. O assunto é trágico. Fica engraçado porque Gleisi rodopia ao redor da tragédia econômica como se nela não estivessem gravadas as digitais do petismo e de Dilma Rousseff.

"Chega a ser comovente neste final de ano o esforço da mídia e parte de seus articulistas pra dizer que as coisas estão melhorando no Brasil. Só não dizem para quem", anotou Gleisi. "Divulgam índices econômicos (arrecadação, investimentos, empregos) insignificantes e de lenta, muito lenta evolução."

A presidente do PT acrescentou: "No emprego, por exemplo, se nada for feito diferente, levaremos 10 anos pra recuperar os índices de 2014. A economia pode esperar este tempo, a vida das pessoas não. Ah, e nada vai ser feito diferente. Já foi dito por quem assumirá o Poder."

Ex-ministra-chefe da Casa Civil no governo Dilma, Gleisi despachou no quarto andar do Planalto entre junho de 2011 e fevereiro de 2014. Testemunhou a construção dos alicerces do desastre. Ela bem sabe que, entre 2013 e 2016, a economia brasileira encolheu 6,8%. Graças ao governo empregocida de Dilma, a taxa de desemprego saltou de 6,4% para 11,2%. Foram ao olho da rua algo como 12 milhões de trabalhadores.

Em 2014, quando Gleisi trocou o Planalto por uma malograda campanha ao governo do Paraná, os únicos empreendimentos que prosperavam no Brasil eram a corrupção e a incompetência governamental. Os dois fenômenos compõem a obra de Lula, pois foi nos governos dele que nasceram o mensalão e o petrolão. Foi de autoria de Lula também a fábula estrelada pelo mito da gerentona.

Na visão anedótica de Gleisi, o abismo econômico foi cavado por Michel Temer. O mais risível é que, no limite, Lula é responsável também pela perversão moral do governo Temer. Foi nos mandatos de Lula, sobretudo no segundo, que o MDB de Temer virou sócio do PT na indústria de propinas. Foi Lula quem abençoou a conversão de Temer em vice na chapa de Dilma.

Pessimista, Gleisi avalia que, sob Jair Bolsonaro, os desempregados comerão o pão que o Tinhoso amassou. "Se nada for feito diferente, levaremos 10 anos pra recuperar os índices de 2014", ela antevê. Reza a teoria econômica que o emprego, quando derretido por uma recessão colossal como a que Dilma inaugurou, é o último indicador a se recuperar na fase de retomada da atividade econômica.

Eleito graças ao antipetismo, maior força eleitoral da campanha de 2018, Bolsonaro já declarou que não pretende pleitear a reeleição. Mas Gleisi, ao raciocinar com o prazo de uma década, parece antever uma vida longa para a era do capitão. É como se a presidente do PT começasse a tomar gosto pelo novo papel que decidiu desempenhar. Gleisi se autoconverteu em piada.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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