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Bolsonaro elege discurso belicoso como seu ‘eixo’

Josias de Souza

02/01/2019 15h21

Jair Bolsonaro fez dois discursos no dia de sua posse. Num, proferido no Congresso, propôs um "pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca de novos caminhos para o Brasil." Noutro, lido no parlatório do Planalto, vaticinou: "O Brasil começa a se libertar do socialismo e do politicamente correto."

Restara uma dúvida: o Brasil será presidido pelo Bolsonaro do "pacto" ou pelo herói da resistência antissocialista? Nesta quarta-feira, no Twitter, o novo presidente apontou a fala encrespada do parlatório como "discurso de posse", apresentando-o como "o eixo do nosso governo."

Como não há "pacto" possível sem desarmamento de espíritos, fica entendido que o discurso dirigido ao Legislativo era feito de abobrinhas protocolares. O miolo da picanha, que dará substância à ação do governo, está no pronunciamento endereçado à multidão reunida na Praça dos Três Poderes.

Aos que acreditaram na perspectiva de restauração da harmonia embutida no discurso em que falou em "unir o povo" e comandar o país sem "sem discriminação ou divisão", Bolsonaro informa que continua pintado para a guerra, girando em torno do "eixo" da campanha eleitoral.

No discurso que ficou valendo, Bolsonaro atiça fantasmas ficcionais —"Nossa bandeira jamais será vermelha…"—, para se jactar de uma coragem desnecessária —"…só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela." Ainda não se deu conta de que, se não direcionar suas energias para batalhas reais —a reforma da Previdência, por exemplo—a coisa tende a ficar preta.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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