Flávio Bolsonaro enferruja discurso ético do pai
Josias de Souza
06/02/2019 15h11
Flávio Bolsonaro vive uma crise. A crise já era grave quando se restringia ao caso Coaf. Agravou-se um pouco mais com a descoberta de que o filho mais velho do presidente da República tem apreço por milicianos. Quando se imaginava que era tudo, surge algo mais: o primogênito é alvo de inquérito criminal por suspeita de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. O processo envolve "negociações relâmpago de imóveis", com "aumento exponencial" do patrimônio.
Com tudo isso e o que está por vir, Flávio Bolsonaro ajuda a compor um quadro que faz com que o governo do seu pai perca a aura de diferente. A ideia de um governo ético, limpinho e moralmente arejado foi para as cucuias. A nova administração mal levantou voo e já sofre, no campo dos costumes, os efeitos de um fenômeno que em linguagem aeronáutica seria chamado de cansaço de materiais. O discurso é atacado pela ferrugem que compromete a prática.
Jair Bolsonaro sabe muito bem o que acontece com políticos e partidos que não conseguem lidar com a realidade que emergiu depois da Lava Jato. O capitão chegou à Presidência sapateando sobre os escombros do PT, PSDB e PMDB. Migrou do baixo clero para o Planalto usando a prisão de Lula como trampolim. Num cenário assim, o pior equívoco que a família Bolsonaro pode cometer é imaginar que há espaço no Brasil para políticos invulneráveis. Não há.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.