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Bolsonaro fez de Bebianno o seu ‘boi de piranha’

Josias de Souza

14/02/2019 19h58

Todo mundo já ouviu a expressão "boi de piranha". Surgiu no meio rural a partir da necessidade de atravessar o gado em rio infestado de piranhas. Para assegurar a passagem da boiada, sacrifica-se um boi já meio combalido. Esse boi é jogado na água para saciar o apetite das piranhas. E o resto do rebanho passa em segurança. A prática é muito comum também na política. Acaba de ser adotada por Jair Bolsonaro. O presidente jogou o ministro palaciano Gustavo Bebianno no rio para ser comido, enquanto outros personagens encrencados escapam.

O governo Bolsonaro tem 22 ministros. Sete ostentam algum tipo de suspeição. Repetindo: a suspeição ronda um terço da equipe do presidente que se elegeu como paladino da ética. Há um ministro condenado por improbidade administrativa, um denunciado por fraude em licitação e tráfico de influência, um investigado por transações suspeitas com fundos de pensão, uma citada em delação da JBS e um beneficiário confesso de caixa dois. Agora, mais dois ministros encrencaram-se no escândalo dos candidatos laranjas do PSL, o partido de Bolsonaro.

Considerando-se a humilhação solitária imposta a Gustavo Bebianno, o capitão não parece muito preocupado com a integridade do seu rebanho ministerial. Se foi capaz de eleger Bebianno, ex-coordenador de sua campanha, como boi de piranha, o presidente não hesitará em jogar outros ministros no rio. Chega-se, então, ao ponto: Bebianno virou comida de piranha para que o próprio Bolsonaro escape. Dito de outro modo: o presidente tenta salvar a pose de herói da cruzada anticorrupção.

A estratégia apresenta dois problemas. O primeiro é que Bolsonaro precisaria varrer muita coisa para baixo do tapete para continuar desfilando sua moralidade presumida. Isso incluiria o sumiço do enrosco do filho-senador Flávio Bolsonaro com o Coaf, do cheque que caiu na conta da primeira-dama e do empréstimo mal explicado do próprio Bolsonaro ao correntista atípico Fabrício Queiroz. O segundo problema é que a tática de Bolsonaro parte do pressuposto de que o Brasil é uma nação de bobos.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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