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Em novo áudio, Bolsonaro escala Onyx para intermediar acordo com Bebianno

Josias de Souza

20/02/2019 20h21

Jair Bolsonaro continua preocupado com a hipótese de sofrer retaliações do ex-ministro Gustavo Bebianno. Nesta quarta-feira, o presidente escalou o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para intermediar um armistício.

Afora o temor de que o ministro demitido cometa alguma inconfidência, Bolsonaro revela preocupação com a perspectiva de Bebianno cobrar honorários em processos judiciais nos quais atua como seu advogado. "Se ele me cobrar individualmente o mínimo, eu tô fodido. Tem que vender uma casa minha para poder pagar", disse.

Por uma trapaça da sorte, o áudio da conversa vazou. No instante em que estava com Bolsonaro, Onyx tocou o telefone celular para um repórter do jornal O Globo. Supõe-se que o ministro tenha feito a ligação inadvertidamente. O diálogo ocorreu por volta das 16h50 desta quarta-feira. Gravado, ganhou as machetes.

A certa altura, Onyx menciona notícia da Folha sobre a intenção de Bebianno de reunir documentos para revelar segredos da campanha presidencial. Onyx tranquiliza Bolsonaro. Leia abaixo a transcrição:

Onyx : A Folha deu uma nota e o Antagonista acabou de reproduzir e ele (Bebianno) acabou de ligar e pediu para tirar. Que é o seguinte… Que ele estava preparando documentos e não sei o quê para atacar. Ele disse ao Jorge (possivelmente Jorge Oliveira, subchefe de Assuntos Jurídicos do Planalto): "o que eu tinha para fazer, eu fiz ontem. Eu não dou mais nenhuma palavra, acabou tudo ontem. Eu tô te dando a minha palavra. Ok?" Então, agora, no fim da tarde, para tu saber, eu vou lá dar uma conversada com ele.

Bolsonaro : Você vai conversar com ele sobre as ações?

Onyx : Vou conversar com ele sobre as ações.

Bolsonaro : Se ele me cobrar individualmente o mínimo, eu to fodido. Tem que vender uma casa minha para poder pagar.

Conforme noticiado aqui, Onyx já havia atuado no último final de semana como intermediário de Bolsonaro junto a Bebianno. Negociou com ele o conteúdo de um vídeo que o presidente divulgou nas pegadas do anúncio da exoneração do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência.

Em troca do silêncio de Bebianno, Bolsonaro sujeitou-se a recobrir o ex-amigo de elogios. Fez isso depois de tê-lo chamado de mentiroso e de ter colocado a Polícia Federal no seu encalço, para apurar a participação no escândalo das candidaturas laranjas do PSL.

A contrição de Bolsonaro não impediu que Bebianno divulgasse no dia seguinte 13 áudios com o conteúdo de diálogos inamistosos que manteve com o presidente. É contra esse de fundo tóxico que Onyx voltou a encarnar o papel de mensageiro nesta quarta-feira.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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