Militares do Brasil reprovam tom bélico de Guaidó
Josias de Souza
25/02/2019 04h30
A ação humanitária de sábado produziu mortos e feridos sem atravessar nenhum saco de comida ou frasco de remédio para dentro da Venezuela. Depois desse fiasco, avaliam os militares brasileiros, o pior que poderia acontecer seria uma escalada belicista como a que começa a se esboçar na retórica de Juan Guaidó, o autoproclamado presidente interino da Venezuela.
Na noite deste domingo (24), o blog ouviu um dos ministros fardados do governo Bolsonaro sobre a hipótese de intervenção militar externa na Venezuela, admitida por Guaidó. O ministro informou que essa carta não consta do baralho do Brasil. Se for mencionada na reunião do Grupo de Lima, marcada para esta segunda-feira, deve ser refugada pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
Avalia-se que um eventual confronto armado transformaria o Brasil numa espécie de figurante no meio de protagonistas de peso. Ao lado de Juan Guaidó, os Estados Unidos. Na trincheira de Maduro, China e Rússia.
O ministro que conversou com o blog recordou que, ao autorizar a participação do Brasil na missão humanitária deflagrada no sábado, Bolsonaro fixara "uma regra de ouro", segundo a qual "nenhum militar ou policial brasileiro poderia cruzar a fronteira com a Venezuela." Caberia aos venezuelanos levar mantimentos e medicamentos para o seu território, lidando com o bloqueio das forças leais a Maduro.
Representante de Bolsonaro no encontro do Grupo de Lima, a realizar-se na Colômbia, Hamilton Mourão levou uma segunda baliza fixada pelo presidente. Se for necessário, o Brasil deixará claro que, em caso de confronto, não permitirá que seu território seja usado como porta de acesso à Venezuela. O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, participará da reunião como observador.
No seu esforço para prevalecer sobre Maduro, Guaidó agora fala em "sugerir à comunidade internacional de maneira formal que devemos ter abertas todas as opções". Intervenção militar externa?, perguntou-se a ele. E Guaidó: "Eu quis dizer exatamente isso, que devemos considerar todas as opções".
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.