Ao liberar Lula, a Lava Jato se redime de um erro
Josias de Souza
01/03/2019 19h58
Um acerto raramente pode ser melhorado. Mas um erro sempre pode ser piorado. Os executores da pena de Lula erraram dramaticamente ao indeferir, no final de janeiro, o pedido do presidiário petista para velar o corpo do irmão Genivaldo Inácio da Silva, o Vavá. Quis o destino que Lula amargasse a morte do neto Arthur Araújo Lula da Silva, de 7 anos. Num mundo em que há tantos erros novos por cometer, a Lava Jato, a Polícia Federal e a juíza que cuida da execução da pena de Lula, Carolina Lebbos, tiveram o bom senso de não cometer novamente um erro velho.
A liberação de Lula para se despedir do neto morto respeitou o ordenamento jurídico e os valores civilizatórios. A Lei de Execuções Penais autoriza os presos a deixarem o cárcere para comparecer, mediante escolta policial, a velórios e enterros de parentes próximos. Os mais elementares sentimentos humanitários indicam que nem um robô negaria a um avô autorização para lançar um último olhar sobre a face de um neto.
Há nas redes antissociais uma pregação ideológica que confunde cumprimento de pena com vingança. Nesse ambiente, a liberação de Lula é tratada como um privilégio hediondo. Erro. Os arquivos do Departamento Penitenciário Nacional armazenam informações sobre o cumprimento da lei. Os dados mais recentes são de 2015. Naquele ano, 175.325 detentos deixaram suas celas para sepultar parentes.
Portanto, trata-se de um direito. Todo o resto é desumanidade. Ou tolice, como a manifestação do deputado Eduado Bolsonaro (PSL-SP), que escreveu no Twitter coisas assim: "Absurdo até se cogitar isso, só deixa o larápio em voga posando de coitado." Normalmente, gente que extrai suas manifestações do fígado não perde a oportunidade de perder uma oportunidade.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.