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Damares inventa a ideologia do espancamento

Josias de Souza

08/03/2019 19h58

Damares Alves, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, suprimiu do seus hábitos o espanto. Vivendo sem horror, ela enxerga a assombração da ideologia em toda parte. E pronuncia barbaridades sem fazer a concessão de um ponto de exclamação. Nesta sexta-feira, Dia Internacional da Mulher, Damares associou os crimes tipificados na Lei Maria da Penha à ideologia de igualdade gênero.

Eis o que declarou Damares numa solenidade de lançamento de campanha contra a violência doméstica: "Os meninos vão ter que entender que as meninas são iguais em direitos e oportunidades, mas são diferentes por serem mulheres. E precisam ser amadas e respeitadas como mulheres. Enquanto nossos meninos acharem que menino é igual a menina, como se pregou no passado, algumas ideologias… já que a menina é igual, ela aguenta apanhar."

O que fazer? Para Damares, a saída está em reforçar estereótipos que as mulheres modernas tentam exorcizar. "Nós vamos ensinar nossos meninos nas escolas a levar flores para as meninas. Por que não? A abrir porta do carro para mulher, por que não? A se reverenciar para uma mulher, por que não? Não vamos estar colocando a mulher em condição de fragilidade. Mas vamos elevar a mulher para o patamar de um ser especial, pleno e extraordinário. E é isso que a gente quer fazer lá na escola."

Quer dizer: depois de suas lições sobre moda ("menino veste azul e menina veste Rosa"), Damares aventura-se no campo da ciência comportamental para inventar uma nova corrente de pensamento. Numa solenidade em que o ministro Sergio Moro (Justiça) defendeu a massificação do uso de tecnologias como tornozeleira eletrônica e botão do pânico contra agressores de mulheres, a pastora Damares lançou as bases da sua ideologia do espancamento.

Quando uma ministra que supostamente representa os interesses das mulheres confunde as gentilezas da cultura machista com política pública e avalia que flor é o melhor remédio contra a estupidez masculina, fica mais fácil entender porque a pancadaria doméstica desabrochou no Brasil.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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