Novato admirador de Trump chefiará a CCJ, comissão mais relevante da Câmara
Josias de Souza
11/03/2019 16h53
Será instalada nesta quarta-feira (13) a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ). É o colegiado mais importante da Casa depois do plenário. Será presidido por um deputado novato: o paranaense Felipe Francischini, de 27 anos. Foi indicado pelo PSL, partido de Jair Bolsonaro. Ultraconservador, Francischini é fã de Donald Trump. Olha de esguelha para o Supremo Tribunal Federal. Combate o que chama de "marxismo cultural". E defende a "escola sem partido."
Felipe ingressou na política nas pegadas de sua formatura como advogado. Elegeu-se deputado estadual no Paraná em 2014. Faz agora sua estreia na Câmara. É filho do ex-deputado federal Fernando Francischini, um delegado aposentado que migrou dos quadros da Polícia Federal para a política. Em 2018, trocaram de posição. O pai, conhecido como Delegado Francischini, trocou Brasília por Curitiba, elegendo-se deputado estadual. O filho, optou pelo Congresso Nacional.
A CCJ é a comissão mais relevante porque funciona como uma espécie de filtro geral da Câmara. Nenhuma proposta pode tramitar na Casa sem o aval dos membros da CCJ. Até eventuais pedidos de impeachment passam pelo colegiado antes de chegar ao plenário. Foi ali que Michel Temer comprou à luz do dia, com cargos e verbas orçamentárias, a aprovação de relatórios recomendando o congelamento de duas denúncias criminais que poderiam ter abreviado o seu mandato-tampão.
Deve-se a ascensão de Felipe a um acordo firmado com Rodrigo Maia (DEM-RJ). Quando estava em campanha para a reeleição à presidência da Câmara, Rodrigo obteve o apoio do PSL com o compromisso de abrir espaço para a legenda em comissões estratégicas, sobretudo na CCJ, por onde começarão a tramitar reformas como a da Previdência.
Na campanha de 2018, uma entrevista de Felipe Francischini a um canal gospel ofereceu um bom resumo do que vai no pensamento do novo deputado federal. Foi exibida em julho do ano passado. Pode ser assistida no vídeo abaixo. Nela, o personagem sustenta que o "pior legado" dos governos do PT não foi a ruína econômica, mas o "marxismo cultural".
Felipe referiu-se à eleição de Donald Trump para a Casa Branca como "um grande marco histórico mundial." Enalteceu a indicação de um juiz conservador para a Suprema Corte dos Estados Unidos. Disse que a providênvia levaria à revisão de uma "política abortista" em vigor nos Estados Unidos. Lembrou que, no Brasil, o novo presidente indicaria dois ministros para o STF. Disse que um conservador seria útil para "rever muitas posições do Supremo."
Autor de um projeto que propunha na Assembleia Legislativa do Paraná a adoção no Estado da chamada "escola sem partido", Felipe dizia na eleição passada que um governo de direita no Brasil poderia suprimir das escolas "o debate ideológico". Seu discurso ecoa o de Jair Bolsonaro.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.