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As pistolas acima de tudo, Deus acima de todos

Josias de Souza

13/03/2019 19h55

Com um atraso de quase seis horas, Jair Bolsonaro lamentou nas redes sociais a morte das vítimas do massacre da escola de Suzano, em São Paulo. Fez isso numa mensagem bem comportada. Prestou condolências às famílias dos mortos. Chamou o fato pelo nome próprio: "desumano atentado." Qualificou a atitude dos assassinos: "Uma monstruosidade e covardia sem tamanho." No final, o capitão injetou o Todo-Poderoso na conversa: "Deus conforte o coração de todos."

Todos sabem o que Bolsonaro gostaria de dizer. Mas o discurso do capitão foi como que terceirizado. O senador Flávio Bolsonaro, primogênito do presidente, também expressou nas redes sociais seus sentimentos de pesar. Mas ele fez um adendo à solidariedade que rendeu aos familiares das vítimas. Escreveu: "Mais uma tragédia protagonizada por menor de idade e que atesta o fracasso do malfadado estatuto do desarmamento, ainda em vigor".

O senador Major Olímpio, hoje a principal voz do PSL, partido de Bolsonaro, no Senado, foi ainda mais explícito: "Se tivesse um cidadão com arma regular dentro da escola —professor, servente, um policial militar aposentado—, ele poderia ter minimizado o tamanho da tragédia", disse o Major. "Vamos, sem hipocrisia, chorar os mortos e discutir a legislação, e onde estamos sendo omissos."

Ecoando um pensamento que Bolsonaro trombeteia desde a campanha, Major Olímpio disse que a "política desarmamentista fracassou". Daí a necessidade de armar todo mundo. Não é que o presidente, seus filhos e seus aliados não tenham enxergado uma solução para o problema da violência. A questão é que eles ainda não enxergaram nem o problema. Tornaram-se parte da encrenca. A pistola acima de tudo. Depois das mortes, Deus acima de todos.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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