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Bolsonaro usa gasolina para apagar fogo de Maia

Josias de Souza

22/03/2019 19h07

Submetido à crise provocada pelas caneladas virtuais de Carlos Bolsonaro em Rodrigo Maia, o presidente da República poderia fazer um telefonema para o presidente da Câmara. Poderia também mandar que seu 'Pitbull', como se refere ao filho, fizesse a ligação. Mas Jair Bolsonaro não quis fazer nem mandar fazer. Preferiu se fingir de desentendido.

"Queria saber o motivo pelo qual o Rodrigo Maia está saindo, estou aberto ao diálogo, qual o motivo?", perguntou o presidente, desde o Chile. "Eu não dei motivo para ele sair." Fazer um filho, como se sabe, é relativamente fácil. O comportamento de Bolsonaro revela que difícil mesmo é ser pai. Mais difícil ainda é ser presidente tendo que administrar um filho expansivo.

No último sábado, Rodrigo Maia convidou Jair Bolsonaro para um churrasco íntimo. Iriam à mesa, além do anfitrião e do inquilino do Planalto, os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e do Supremo, Dias Toffoli. Bolsonaro levou a tiracolo 20 ministros. Horas depois, o capitão dedicou-se a malhar no Twitter a "velha política" e sua fome por cargos. Maia levou o pé atrás.

Nos dias seguintes, Carlos Bolsonaro pôs-se a alfinetar a articulação de Maia ao redor da proposta da Previdência. Na quinta-feira, Carlos tomou as dores de Sergio Moro na queda-de-braço que trava com o presidente da Câmara para colocar seu pacote anticrime e anticorrupção na pauta. "Por que o presidente da Câmara anda tão nervoso?", fustigou o 'Zero Dois'.

Rodrigo Maia retirou-se da articulação pró-reforma. Ao responder ao gesto com uma interrogação —"Qual o motivo?"—, Bolsonaro exagera na dissimulação e desrespeita a inteligência alheia. É como se tentasse apagar com gasolina o fogo que consome a paciência do presidente da Câmara. A tática faz sucesso nas redes. Mas não rende um mísero voto na Câmara.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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