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Indústria que mais cresce no Rio é a do escárnio

Josias de Souza

23/03/2019 06h46

O segredo para quem insiste em acompanhar o noticiário sobre a degradação política do Rio de Janeiro é manter sempre à mão, como um metafórico comprimido de Isordil, uma dose de ceticismo. Quando se imagina que a situação já ultrapassou a fronteira do inacreditável, injeta-se mais avacalhação dentro do escândalo. A Assembleia Legislativa do Rio conseguiu produzir dois escárnios em 24 horas.

Na quinta-feira, a Mesa Diretora da Alerj deu posse a cinco deputados estaduais que estão presos, acusados de corrupção. Quatro dos empossados assinaram o termo nas dependências da penitenciária de Bangu 8. Na sexta, saiu no Diário Oficial do Estado o segundo despautério: criou-se uma espécie de "Bolsa-Qualquer-Coisa".

Além do salário de R$ 25,3 mil, a Mesa Diretora deliberou que cada deputado estadual receberá R$ 26,8 mil por mês. O dinheiro pode ser aplicado na compra de passagens aéreas, aluguel de carros, gasolina, internet, material de escritório, aluguel de imóveis, IPTU, o diabo.

Presidida por André Ceciliano (PT), a Mesa da Alerj apelidou o novo benefício de "descentralização orçamentária de custeio individualizado de gabinete parlamentar." Trata-se de um eufemismo para assalto. Consolida-se a impressão de que o empreendimento que mais cresce no Rio de Janeiro é a indústria do escárnio.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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