Chefe do Fisco critica Maia e incita sociedade a pressionar parlamentares
Josias de Souza
24/03/2019 02h21
O secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, entrou na briga que eletrifica as relações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com o governo. Ele não gostou da declaração de Maia segundo a qual a gestão de Jair Bolsonaro é "um deserto de ideias". Cintra retrucou no Twitter: "…Não aceito esta imputação. O Ministério da Economia, sob Paulo Guedes, tem sido um turbilhão renovador no país. Que me desculpe o amigo Rodrigo Maia, mas ficar calado significa aceitar esta injusta afirmação."
Na contramão de Paulo Guedes, que tenta borrifar água fria na fervura política que ameaça a reforma previdenciária, Cintra jogou lenha no fogo, instilando o eleitorado a pressionar os congressistas. O comandante do Fisco anotou: "Já que os deputados acham que seus pedidos não estão sendo atendidos e não se mostram dispostos a apoiar a nova previdência, que a sociedade se articule para cobrar de seus representantes as razões que justificam eles sacrificarem o país e fazerem o povo pagar a conta."
Curiosamente, na mesma entrevista em que tratou o governo como um saara intelectual, Rodrigo Maia abriu uma exceção. Referiu-se à pasta da Economia como um oásis. "As pessoas precisam da reforma da Previdência e, também, que o governo volte a funcionar", disse o deputado. "Nós temos uma ilha de governo com o Paulo Guedes. Tirando ali, você tem pouca coisa."
Alheio à ressalva de Maia, Cintra realçou em outro post as consequências deletérias que o ringue instalado nas redes sociais exerce sobre o mercado: "A brutal queda na Bolsa ontem de quase 6% mostra que a economia e o povo não suportarão o fracasso nas reformas estruturais como a previdenciária e tributária. Os políticos patriotas devem se unir, superar brigas pessoais e trabalhar pelo Brasil. O povo não vai tolerar fracassos."
Outro auxiliar de Paulo Guedes, o secretário especial de Previdência Rogério Marinho, também se manifestou no Twitter. Sem mencionar Maia, escreveu: "A nova previdência não é pauta apenas do governo, é pauta do país e como tal precisa ser encarada. O Parlamento brasileiro mais uma vez fará sua parte para retomarmos o crescimento e devolvermos o Brasil para os seu legítimo dono: o povo."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.