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‘Brasil votou com consciência’ contra Palestina na ONU, declara Bolsonaro

Josias de Souza

29/03/2019 22h03

"Brasil votou com consciência", diz Bolsonaro sobre abandonar Palestina na ONU

UOL Notícias

Jair Bolsonaro concluiu numa conferência evangélica a semana que ele iniciara num cinema. No meio da tarde desta sexta-feira, o presidente compareceu a um evento religioso chamado "A Escola de Hombridade". Coisa destinada a "homens destemidos, corajosos e honrados". Na véspera do seu embarque para Israel, declarou que "o Brasil votou com consciência" ao abandonar a Palestina em votações no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

"Amanhã, se Deus quiser, parto para Israel", disse Bolsonaro. "Há poucos dias, na ONU, pela primeira vez o Brasil votou com consciência. Votou com os Estados Unidos e Israel as questões dos direitos humanos. A imprensa diz que eu rompi uma tradição [que era] de votar com a Palestina. Eu respeito o povo palestino. Governo é outra coisa."

A notícia sobre a reviravolta que encostou a diplomacia brasileira nos interesses de Israel, distanciando o Itamaraty da tradicional aliança com a Palestina, foi veiculada no blog do repórter Jamil Chade na última sexta-feira (22). Ele anotou: "Faltando uma semana para a visita de Bolsonaro à cidade de Tel Aviv, o Itamaraty deu demonstração de apoio a Netanyahu e votou contra resoluções que condenavam Israel. O Brasil também não apoiou um texto que criticava a ampliação dos assentamentos ilegais e votou contra resolução que condenava violações por parte de Israel nas Colinas de Golã."

Bolsonaro comentou as impressões que recolheu em Israel na primeira vez que visitou o país: 'Só vi areia. Lá, inclusive, nem Petróleo tem.  Mas trouxe um grande ensinamento. Vi o que eles não têm e o que eles são. Todos nós sabemos o que temos e o que não somos. Onde está o ponto de fricção nisso tudo? No meu entender, é a fé em Deus, é a consciência de que cada um tem que fazer a sua parte. […] Se nós trouxermos isso para cá, tenho certeza que o mundo, em poucas décadas, ficará surpreso de onde nós poderemos chegar."

Foi a terceira vez que Bolsonaro abandonou a rotina nesta semana. Na manhã de terça-feira, ele acompanhara sua mulher, Michelle, numa sessão de cinema, num Shopping de Brasília. Na noite de quinta, comparecera a uma churrascaria da Capital, para prestigiar o aniversário do amigo Hélio Lopes, deputado federal pelo PSL do Rio de Janeiro. O evento desta sexta não constava da agenda. A imprensa foi proibida de entrar no auditório em que se realizou a conferência, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

A "Escola de Hombridade" é promovida anualmente pela igreja Comunidade das Nações. Num vídeo promocional, a iniciativa é descrita como um movimento destinado ao "avivamento e despertamento" dos homens contra "os modismos e histerias da pós-modernidade." Gravada em preto e branco, a peça exibe um menino, um adolescente e um homem praticando boxe. Ouve-se rock ao fundo. E surge a mensagem: "Convidamos você a fazer parte de um movimento onde os valores e princípios são reestabelecidos. Acreditamos em homens destemidos, corajosos e honrados que agem de forma íntegra e digna e que nunca desistem!".

O discurso de Bolsonaro não estava previsto na programação. A atração principal da conferência é o pastor Cláudio Duarte, muito popular na internet. Ele costuma falar sobre os relacionamentos conjugais. Tornou-se amigo de Bolsonaro. Declarou apoio à candidatura dele nas eleições do ano passado. Na definição de Bolsonaro, o pastor ensina os maridos a compreenderem melhor suas mulheres.

"Nós não vivemos sem elas. Devemos reconhecer que somos inferiores", disse o marido da primeira-dama Michelle. Tomado pelas palavras, Bolsonaro valoriza sobretudo o papel doméstico da mulher: "Entendendo a mulher, a família sobrevive. Uma sociedade não pode ser unida se a família não for unida em primeiro lugar."

O presidente falou em milagre quatro vezes. Disse que foi por milagre que sobreviveu à facada que recebeu na campanha eleitoral. Atribuiu sua vitória a outro milagre."E temos quase que um milagre todos os dias para vencermos os desafios e colocar o nosso Brasil no local que nós merecemos." Felizmente, o capitão não se autoatribuiu poderes divinos. Brincando com o próprio sobrenome, ele afirmou: "Apesar de entre Jair e Bolsonaro ter a palavra Messias, estou longe de fazer milagre."

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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