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Flerte de Bolsonaro com a reeleição é aberração

Josias de Souza

10/04/2019 00h14

Jair Bolsonaro precisa socorrer Jair Bolsonaro. Num instante em que ostenta a pior avaliação já atribuída a um presidente em início de mandato desde a redemocratização, o capitão decidiu atravessar no seu próprio caminho uma nova pedra. Essa pedra se chama reeleição. "A pressão está muito grande para que, se eu estiver bem, que me candidate à reeleição", disse Bolsonaro em entrevista ao repórter Augusto Nunes.

Na recentíssima campanha eleitoral, Bolsonaro jurou que não disputaria um segundo mandato. Agora, reafirma que a reeleição tem sido "péssima" para o país, pois os governantes "se endividam, fazem barbaridade, dão cambalhota" para se reeleger. Mas Bolsonaro já não cogita pegar em lanças pelo fim da reeleição. Alega que não cabe a ele, mas ao Congresso promover uma reforma que apague a reeleição do ordenamento jurídico.

Bolsonaro levou o debate sobre a reeleição para o pântano das ambiguidades, o habitat preferido de certos políticos. Nesse pântano, o capitão executa uma coreografia enfadonha. Ele parece ser e não ser ao mesmo tempo. Afirma que se pensasse em reeleição faria uma reforma previdenciária "light". Mas realça que "está muito grande" a pressão para que concorra novamente.

Em condições normais, seria apenas constrangedor assistir a um presidente que acabou de se eleger com a promessa de ser o coveiro de velhos hábitos políticos comprometendo o seu governo com uma disputa pelo Poder que, além de prematura, pode ser paralisante. Quando isso ocorre no aniversário de 100 dias de uma Presidência decepcionante, o constrangimento descamba para a aberração.

Político que não ambiciona o Poder vira alvo. Mas político que só ambiciona o Poder erra o alvo. A única ambição que Bolsonaro deveria ter no momento é a ambição de trabalhar.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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