Centrão impõe humilhações em série a Bolsonaro
Josias de Souza
17/04/2019 20h20
A reforma da Previdência empacou na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. A votação foi adiada para depois da Páscoa. Isso ocorre porque o centrão, grupo suprapartidário conservador que vive de apoiar governos em troca de vantagens, decidiu dar uma lição em Jair Bolsonaro. O centrão quer ensinar a Bolsonaro que ataques à velha política, muito úteis em campanhas eleitorais, perdem a serventia no instante em que o presidente manda para o Congresso as emendas constitucionais que prometeu aos eleitores.
No caso da reforma da Previdência, o que Bolsonaro precisa no momento é de três quintos dos votos: 308 votos na Câmara e 49 votos no Senado. Sem os votos do centrão, o Planalto não atingirá essas marcas. No gogó, os partidos do centrão se dispõem a ajudar. Mas consideram mixurucas as vantagens levadas por Bolsonaro ao balcão: cargos de quinta categoria nos Estados e uma mixaria em emendas orçamentárias.
Em aliança com a oposição, o grupo apressa a votação da emenda constitucional que impõe o pagamento dos gastos que as bancadas estaduais enfiam dentro do Orçamento da União. Aceleram a emenda que transfere verbas federais diretamente para os prefeitos, sem a intermediação do governo federal. O centrão arranca na marra o que Bolsonaro se nega a negociar. O grupo faz gato e sapato do governo na Comissão de Justiça da Câmara.
O centrão impõe humilhações em série a Bolsonaro. Inverte a pauta, para tirar a Previdência do primeiro lugar da fila. Assiste de braços cruzados às manobras protelatórias da oposição. Condiciona a votação a uma lipoaspiração na proposta do governo. Em vez de negociar a sério, levando à vitrine eventuais propostas indecentes, Bolsonaro prefere ficar irritado. O Centrão não fica irritado, fica com tudo.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.