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Jabuti anti-Receita é batizado de ‘Emenda Gilmar’

Josias de Souza

09/05/2019 06h19

Apareceu um jabuti na medida provisória sobre a reorganização dos ministérios no governo de Jair Bolsonaro. Trata-se de uma emenda que proíbe expressamente auditores da Receita Federal de apurar crimes que não sejam tributários. Líder do PSL no Senado, Major Olímpio batizou o jabuti de "Emenda Gilmar Mendes" —uma alusão à crise que levou o ministro do Supremo a contestar, com sucesso, documento do fisco que o associava a fraudes.

Emendas que surgem do nada são apelidadas de jabutis porque esse tipo de réptil, recoberto por uma carapaça pesada, não sobe em árvore. Só aparece no alto quando é levado por enchente ou mão de gente. Considerando-se que não houve inundação no Congresso, restou a segunda opção. Os parlamentares enxergaram na emenda anti-Fisco as digitais do líder do MDB no Senado, Eduardo Braga, que ainda não assumiu explicitamente a paternidade do jabuti "Gilmar".

Seja qual for a origem, o que importa é que o relator da medida provisória, senador Fernando Bezerra, correligionário de Eduardo Braga no MDB, incorporou o jabuti ao seu texto. Não há dúvida quanto à inspiração. Gilmar Mendes não foi a única autoridade mencionada em documentos de auditores sobre a prática de supostos crimes alheios à seara fiscal. Coisas como lavagem de dinheiro, tráfico de influência e ocultação de patrimônio.

O problema é que, a pretexto de coibir eventuais transfressões funcionais, o jabuti pode inviabilizar a participação de auditores em investigações anticorrupção como a Lava Jato. Pode dificultar também o compartilhamento de informações sobre crimes entre os auditores e o Ministério Público Federal. Bezerra disse que não cogita retirar o jabuti do seu relatório. Quem for contra precisa reunir votos.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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