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Paulo Guedes vira ministro de governo alternativo

Josias de Souza

21/05/2019 04h05

Há dois governos em Brasília, o oficial e o alternativo. Num, Jair Bolsonaro cuida da ofensiva contra "o grande problema" do Brasil, que "é a nossa classe política." Noutro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, faz política. No país oficial, o presidente atiça uma manifestação de rua hostil ao Congresso. No Brasil paralelo, ao qual o capitão dispensa uma atenção apenas residual, o Posto Ipiranga pede ajuda aos congressistas para salvar do incêndio sua agenda reformista.

A movimentação errática de Bolsonaro dá ao governo oficial uma aparência de falta de rumo. O diálogo de Guedes com os caciques do Legislativo constitui um esforço para evitar que o rumo do país seja uma crise eterna. Bolsonaro não gosta de Rodrigo Maia, mas o pragmatismo de Guedes gosta. E Maia atrai no Legislativo os votos que Bolsonaro afugenta.

Quanto mais o presidente chuta o centrão, mais o grupo valoriza o ministro da Economia. "Se Paulo Guedes e a equipe dele saem, desaba tudo, acaba o país", diz o líder do DEM na Câmara, deputado Elmar Nascimento. "Hoje, há até uma espécie de blindagem da classe política em relação a ele."

Bolsonaro carrega para dentro da agenda do país oficial os rancores que acumulou nos 28 anos que frequentou o baixo clero da Câmara. Quanto a Guedes, as únicas contas que tem para ajustar são as contas públicas do Brasil paralelo. Por isso, o ministro carrega o piano da reforma da Previdência.

Com mais de 13 milhões de desempregados e a economia andando para trás, Paulo Guedes tenta salvar 2020 do fiasco. Já se deu conta de que não conseguirá livrar 2019 de um desempenho econômico medíocre. E encontra solidariedade crescente no Legislativo.

Ao farejar a intenção de Bolsonaro de terceirizar aos congressistas a culpa pelo imobilismo do governo, a cúpula do Legislativo decidiu se mexer. Aperta o passo na reforma da Previdência. E põe para andar uma versão própria de reforma tributária. Suprema ironia: ao travar o Brasil oficial com sua inépcia, o presidente faz andar a agenda que interessa a Guedes e ao Brasil alternativo.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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