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Medo do asfalto amolece o governo e o centrão

Josias de Souza

22/05/2019 17h01

Comparadas com as multidões que foram às ruas na célebre jornada de 2013, as passeatas de estudantes e professores contra o facão do Ministério da Educação foram pequenas. Não se sabe que tamanho terão os atos pró-Bolsonaro do próximo domingo. Mas o simples ressurgimento do nariz daquilo que Juscelino Kubitschek chamava de "o monstro" já foi suficiente para amedrontar parte do centrão e o pedaço do governo pertencente à cota de Olavo de Carvalho.

Alvo das manifestações estudantis, o governo liberou parte de sua reserva orçamentária para umedecer o orçamento da Educação. Coisa de R$ 1,587 bilhão. Não resolve os problemas do setor. Mas atenua a impressão de descaso.

Na alça de mira dos protestos que estão por vir, o centrão abriu a guarda para permitir a votação da medida provisória que reformou a estrutura dos ministérios. Ainda não se sabe se Sergio Moro levará o Coaf. Mas já não há o risco de ressurreição do organograma de Michel Temer, com 29 ministérios em vez de 22.

Na definição de Juscelino, o monstro é a opinião pública. Normalmente, manifesta-se por meio dos  personagens que elege para representá-lo. De raro em raro, a imprensa consegue interpretar-lhe os desejos. Mas em situações de crise, o monstro dispensa intermediários. Faz o asfalto roncar.

O monstro mobilizou-se pelas diretas. Derrubou um regime. Pôs para correr dois presidentes da República. Avalizou o esforço anticorrupção, abrindo as portas das cadeias para a oligarquia política e empresarial. Agora, revela-se impaciente com a incapacidade do Poder de entregar responsabilidade, estabilidade, probidade e empregos. Por enquanto, a crise está nos gabinetes. Mas o monstro informa que ela pode voltar definitivamente para as ruas. Daí o medo.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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