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Se Guedes for embora, Bolsonaro ficará perneta

Josias de Souza

24/05/2019 19h05

A equipe ministerial de Jair Bolsonaro, por precária, equilibra-se sobre duas escassas pernas. No campo moral, escora-se no prestígio de Sergio Moro. Na seara econômica, apoia-se no destemor liberal de Paulo Guedes. As derrotas impostas a Moro e as concessões do capitão à imoralidade deixaram o governo manco. Se Guedes for embora, a gestão Bolsonaro ficará perneta. E seguirá, aos pulinhos, em direção ao brejo.

Em entrevista à Veja, o Posto Ipiranga ameaçou fechar as portas se a proposta do governo para a Previdência virar uma "reforminha" no Congresso. "Pego um avião e vou morar lá fora. Já tenho idade para me aposentar", declarou Guedes. "Se não fizermos a reforma, o Brasil pega fogo. Vai ser o caos no setor público, tanto no governo federal como nos estados e municípios".

Não se trata de uma declaração qualquer. É uma ameaça. Um observador desatento pode imaginar que o ministro da Economia aderiu à cruzada de Bolsonaro contra o Congresso. Engano. O endereço da advertência de Paulo Guedes é o Palácio do Planalto, não o Legislativo.

Conforme já foi comentado aqui, há dois governos em Brasília, o oficial e o alternativo. No oficial, Bolsonaro ataca "o grande problema" do Brasil, que "é a nossa classe política." No alternativo, Guedes, faz política. Enquanto o presidente atiça uma manifestação hostil ao Congresso, o ministro pede ajuda aos congressistas para retirar sua agenda reformista do incêndio.

De passagem pelo Nordeste, Bolsonaro como que abriu a porta de saída para Guedes: "É um direito dele, ninguém é obrigado a continuar como ministro meu. Logicamente, ele está vendo uma catástrofe, é verdade, eu concordo com ele, se nós não aprovarmos algo realmente muito próximo ao que enviamos no Parlamento. O que Paulo Guedes vê, e ele não é nenhum vidente, nem precisa ser, para entender que o Brasil vai viver um caos econômico sem essa reforma." Para Bolsonaro, o caos empurraria Guedes para a "praia."

O que Bolsonaro ainda não percebeu é que, diante da visão do caos, o presidente precisa responder à seguinte pergunta: o que eu posso fazer para resolver o problema? Talvez se dê conta de que precisa tomar três providências: 1) Procurar aliados; 2) Descartar amigos inconvenientes; e 3) Evitar brigas. Fazer crises é fácil, difícil é desfazê-las.

Quando Bolsonaro admitiu, ainda em campanha, que não entendia nada de economia, inspirou medo. Mas muita gente ficou tranquila quando o capitão esclareceu que dispunha de um Posto Ipiranga. Imaginou-se que o presidente não teria um ministro da Economia. O ministro é que teria o presidente. Engano. Bolsonaro revelou-se um personagem indomável.

Ou Bolsonaro revela uma insuspeitada capacidade de agir com serenidade ou se arrisca a fazer parte do imaginário popular como o primeiro Saci-Pererê da história a ocupar a poltrona de presidente da República. Nomeará outro ministro. E passará a comandar outro governo, ainda pior do que o atual.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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