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Como ministro, Weintraub revela-se ator precário

Josias de Souza

30/05/2019 16h21

A gestão do ministro Abraham Weintraub (Educação) escorrega aceleradamente da ineficiência ideológica para o escárnio. Ele inventou uma nova modalidade de desmentido: o desmentido musical. A pretexto de reclamar de uma suposta "chuva de fake news" que cai sobre sua pasta, Weintraub estrelou nas redes sociais uma versão tosca do clássico "Cantando na Chuva".

Num vídeo levado ao ar nesta quinta-feira (30), o ministro negou que o MEC seja o responsável pelo corte de parte da verba destinada à reconstrução do Museu Nacional, administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Previa-se a liberação de R$ 55 milhões. Dinheiro proveniente de emendas orçamentárias providenciadas pela bancada federal do Rio no Congresso. Foram passados na lâmina R$ 11,9 milhões, o equivalente a 21,6% do total.

O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, disse ao jornal O Globo que a instituição não foi ouvida pelo MEC sobre o corte. Weintraub desmentiu-o com estilo. Segurando um guarda-chuva, com a música "Singin' in the Rain" ao fundo, o ministro explicou:

"O que acontece: haviam [sic] emendas parlamentares de R$ 55 milhões para recuperar o museu. Esta emenda da bancada [fluminense] resolveu reduzir em R$ 12 milhões. Nada a ver com MEC. Mas, mesmo se o dinheiro estivesse prontamente disponível para ser gasto, o projeto ainda não está protocolado. Então, não daria para começar as obras."

Noves fora o atentado cometido pelo ministro da Educação contra a língua portuguesa —"Haviam emendas…" Irrrrc— Weintraub revela-se um ator mambembe. O personagem inspira cuidados. Quem assiste ao vídeo enxerga não uma chuva, mas um ministro em chamas. Em respeito ao MEC, evita-se gritar incêndio dentro do teatro. Mas Weintraub desafia a paciência alheia ao fazer teatro dentro do incêndio.

A reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro divulgou uma nota sobre o tema. Nela, sustenta que, em 4 de setembro de 2018, dois dias depois do incêndio que devastou o Museu Nacional, o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, veio aos holofotes. Informou na época ter obtido o apoio dos colegas do Rio para transferir R$ 55 milhões em emendas da bancada para a reconstrução do museu. Emendas impositivas, ele enfatizara.

De acordo com a nota, "em 2019, a UFRJ foi surpreendida com um bloqueio no valor de R$ 11.896.500,00 sobre a emenda da bancada do Rio de Janeiro, ocorrido no dia 30/4/2019, mesmo valor em que sofreu o bloqueio do orçamento discricionário."

Como se vê, estabeleceu-se uma controvérsia. O ministro da Educação pode ter razão. Ou não. O episódio, por dramático, pede seriedade. Não é hora para piadas. O barulhinho que se ouve ao fundo é o ruído de Gene Kelly se revirando no túmulo.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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