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De protegido, Bolsonaro vira o protetor de Moro

Josias de Souza

13/06/2019 22h02

Com quatro dias de atraso, Jair Bolsonaro saiu em defesa do seu ministro da Justiça. Disse que Sergio Moro "faz parte da história do Brasil", pois "mostrou as vísceras do poder, a promiscuidade do poder", expôs a corrupção. Ele menosprezou o conteúdo das mensagens que revelaram que Moro foi além do que seu sapato de juiz permitiria ao estabelecer uma parceria com o coordenador da Lava Jato Deltan Dallagnol. "Ninguém forjou provas" contra Lula, disse Bolsonaro.

As palavras do presidente marcam uma inversão de papeis. Moro achava que seria o esteio moral do governo. Tornou-se dependente do amparo do capitão. Em novembro do ano passado, antes de tomar posse, Moro reconheceu que havia na praça receios quanto aos pendores democráticos de Bolsonaro. Ele declarou: "Minha presença no governo também pode ter um efeito salutar de afastar esses receios infundados, porque, afinal de contas, sou um juiz, sou um homem de lei. Eu jamais admitiria qualquer solução que fosse fora da lei."

Como disse Bolsonaro, não há nas mensagens surrupiadas criminosamente vestígio de fabricação de provas. Mas há, sim, indícios de que Moro trafefou à margem da legislação que impõe a imparcialidade aos magistrados. Antes de assumir a defesa oral do seu ministro, Bolsonaro executou, na noite da véspera, Dia dos Namorados, uma coreografia elucidativa. O capitão levou o ex-juiz ao estádio de futebol.

Enfiaram-se dentro de camisetas do Flamengo. Foram festejados efusivamente pela arquibancada. O capitão resumiu assim a incursão: "Eu dei um beijo hétero no nosso querido Sergio Moro." Num instante em que o Queiroz anda sumido e os decretos inconstitucionais de Bolsonaro desmoronam no Congresso e no Supremo, a presença de Moro na Esplanada já não afasta nenhum receio, exceto o pavor do próprio presidente de que seu ministro, sentindo-se maltratado, resolva direcionar sua popularidade para uma candidatura presidencial.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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