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Reforma previdenciária vira os atores do avesso

Josias de Souza

15/06/2019 04h34

A reforma da Previdência virou o cenário político do avesso. Jair Bolsonaro, que sempre risca o fósforo, agora assopra. O ministro Paulo Guedes, da Economia, que carregava o balde de água fria, decidiu elevar a fervura. E o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que poupava Guedes de ataques, passou a bater sem piedade. Como se fosse pouco, o centrão, que sempre tocou fogo no circo, agora trabalha para manter a lona em pé.

Tudo começou a se mover depois que o deputado Samuel Moreira, relator da reforma previdenciária, apresentou sua proposta. Em vez de economizar R$ 1,2 trilhão em dez anos, como queria o governo, propõe uma poupança de R$ 913 bilhões. Chegou a esse número com um anabolizante. A cifra inclui R$ 50 bilhões de um aumento do imposto sobre o lucro dos bancos.

"É natural ceder para aprovar o que é possível", contentou-se Bolsonaro. Se "forçar a barra" corre-se o risco de não aprovar nada. "Abortaram" a nova Previdência, queixou-se Paulo Guedes. Os deputados cederam a "pressões corporativas", ele acusou. Na conta do ministro, a economia será de apenas R$ 860 bilhões. Ele não contabiliza o anabolizante do imposto cobrado dos bancos. Para ele, isso é política tributária, não previdenciária.

Abespinhado, Rodrigo Maia disse que o governo tornou-se uma "usina de crises". Lamentou que até o "amigo Guedes" tenha aderido ao bloco da discórdia. Disse que, se dependesse da articulação do governo, nem haveria reforma. Articula por conta própria. Faz isso em aliança com o centrão, que se dispõe a aprovar a reforma para não ser acusado de alimentar a crise. Bolsonaro pacificando, Guedes atiçando, Maia articulando e o centrão, veja você, pensando no bem do país. Ou a coisa desanda de vez ou Brasília encontrou na confusão o caminho para a solução.

 

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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