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Davi Alcolumbre sobre Moro: se fosse parlamentar ‘estaria cassado ou preso’

Josias de Souza

25/06/2019 11h04

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, fez uma avaliação corrosiva sobre as mensagens que Sergio Moro trocou com o procurador Deltan Dallagnol na época em que era juiz da Lava Jato: "Se isso fosse deputado ou senador, tava no Conselho de Ética, tava cassado ou tava preso."

O comentário foi feito na noite de segunda-feira, em jantar promovido pelo site Poder 360. Para Alcolumbre, o atual ministro da Justiça ultrapassou os limites éticos que deveriam reger a relação de um magistrado e um procurador, responsável pela acusação.

Alcolumbre concedeu a Moro, por assim dizer, o benefício da dúvida: "Aquilo é verdade? Vai comprovar?" Mas insistiu na analogia. Se fosse um congressista, poderia ser punido mesmo sem a comprovação da autenticidade dos diálogos.

Num instante em que até mesmo a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal hesita em concluir o julgamento do pedido de suspeição formulado pela defesa de Lula contra Moro, a avaliação do comandante do Senado soou inusitada e exagerada.

O comentário é inusitado porque Alcolumbre parece falar de corda em casa de enforcado, pois responde a dois inquéritos no Supremo. Como se referem a assuntos conexos, as investigações correm em conjunto, no gabinete da ministra Rosa Weber.

Num inquérito, de 2016, a Procuradoria acusa Alcolumbre de "utilização de notas fiscais frias inidôneas para a prestação de contas, ausência de comprovantes bancários, contratação de serviços com data posterior à data das eleições…" Noutro, de 2018, o senador é acusado de apresentar notas fiscais frias na prestação de contas da eleição de 2014.

A ponderação soou exagerada porque Senado e Câmara são casas apinhadas de encrencados com a lei. Réus da Lava Jato desfilam pelos gabinetes, corredores e salões do Legislativo como se nada tivesse sido descoberto sobre eles. Não há vestígio de punição ou incômodo. Os conselhos de ética são terrenos baldios.

Abstendo-se de olhar ao redor, Alcolumbre afirmou que a troca de mensagens entre Moro e Dallagnol "não era pra ter sido naquele nível". Previu consequências graves: "Se isso for verdade, eu acho que vai ter um impacto grande." Paradoxalmente, acha que não haverá prejuízos à Lava Jato. "Ninguém contesta nada disso, e não vai contestar nunca." Faltou definir "impacto grande."

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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