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Delação de Palocci espanta pela falta de resultado

Josias de Souza

15/08/2019 19h37

O conteúdo da delação de Antonio Palocci é espetacular. Tão fabuloso que espanta pela ausência de resultados. O lixão exposto pelo ex-homem forte do petismo seria suficiente para iniciar uma nova Lava Jato. Entretanto, as únicas consequências obtidas até aqui foram:

1) O aprofundamento da desmoralização do PT.

2) A comprovação de que Palocci é um corrupto de mostruário.

3) A constatação de que o larápio já usufrui dos benefícios da delação.

Exceto pelos benefícios exorbitantes concedidos ao delator, é pouco, muito pouco, quase nada. Sobretudo quando se considera que ninguém mais duvida da desqualificação do PT. Também não há na praça quem se disponha a levar a mão à grelha por Palocci.

O petismo nunca soube reagir à delação companheira de Palocci. Difícil desvincular-se do ex-coordenador das campanhas de Lula e Dilma, ex-czar da Economia; ex-chefão da Casa Civil. Mas a penúltima manifestação da legenda, por desconexa, foi especialmente inusitada. Vale por uma confissão.

"Nada que Antonio Palocci diga sobre o PT e seus dirigentes tem qualquer resquício de credibilidade", escreveu o partido. Por quê? O dedo-duro "negociou com a Polícia Federal, no âmbito da Lava Jato, um pacote de mentiras para escapar da cadeia e usufruir de dezenas de milhões em valores que haviam sido bloqueados".

Ora, se o companheiro soltou a língua para desbloquear "dezenas de milhões" é porque roubou em proporções amazônicas. Se assaltou à larga, foi porque converteu os governos petistas em milhões de oportunidades. Quer dizer: de acordo com a versão oficial do PT, roubou-se às escâncaras sob Lula e Dilma.

A força tarefa de Curitiba sempre torceu o nariz para a delação de Palocci. Os procuradores achavam que o companheiro chovia no molhado. Dizia mais do mesmo. E não merecia nenhum prêmio judicial. A Polícia Federal discordou dos procuradores. Colheu os depoimentos de Palocci.

De duas, uma: ou vem por aí uma tempestade de gelar os ossos da oligarquia corrupta ou o delator se absteve de anexar provas ao palanfrório. Na dúvida, Palocci não deveria estar desfrutando das delícias do regime aberto. Se prevalecesse o bom senso, ficaria em cana até que sua "colaboração" resultasse em punições compatíveis com a recompensa.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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