Topo

Silêncio do capitão sobre Carluxo diz muita coisa

Josias de Souza

11/09/2019 15h32

A essa altura, bem mais desconcertante do que o barulho que se formou em torno da declaração golpista de Carlos Bolsonaro é o silêncio do presidente da República. "Por vias democráticas", escreveu Carluxo, "a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos." Diante do despautério do filho, Jair Bolsonaro decidiu que o melhor a fazer é não comentar. Até os surdos conseguem ouvir a eloquência da mudez de Bolsonaro.

Há concordância no silêncio do presidente. Se subisse no caixote das redes sociais para desautorizar o filho Zero Dois, Bolsonaro teria de realçar meia dúzia de virtudes da democracia. Mas ele já deu inúmeras demonstrações de apreço pela ditadura e pelos ditadores.

Há pragmatismo no silêncio de Bolsonaro. Com a popularidade em declínio, convém à sua imagem a desculpa verbalizada pelo filho de que "a transformação que o Brasil quer" não chega "na velocidade que almejamos" porque a roda da democracia está com defeito e os que sempre nos dominaram "continuam nos dominando de jeitos diferentes".

O que falta a Bolsonaro é perceber que há também no seu silêncio uma boa dose de estupidez. Ninguém imaginaria que, eleito, o capitão abandonaria do dia para a noite o hábito de virar a mesa para sentar-se em torno dela. Mas é preciso notar que há sobre a mesa três problemas: uma crise econômica, uma falência moral e uma sociedade estilhaçada. O flerte com a ruptura institucional, além de não fazer sucesso no Brasil de hoje, não trará de volta os empregos, não restaurará a moralidade e não pacificará o país. Alguma sensatez não faria mal a ninguém.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Silêncio do capitão sobre Carluxo diz muita coisa - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


Josias de Souza