Governo muda inteligência do Fisco sem explicar
Josias de Souza
24/09/2019 19h34
Ricardo Feitosa chegara à chefia da Copei, a Coordenação-geral de Pesquisa e Investigação da Receita Federal, de forma esquisita. Foi importado do Mato Grosso. Servia na Delegacia da Receita Federal em Cuiabá. Nunca atuara na área de inteligência.
A ascensão repentina provocou uma onda de questionamentos na corporação dos auditores fiscais. Nos subterrâneos, colegas do novo xerife da inteligência da Receita apontaram supostos vínculos de Ricardo Feitosa com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. O mesmo Gilmar que fora alvejado por investigação fiscal vazada à imprensa.
De repente, apenas quatro meses depois da nomeação, Ricardo Feitosa foi enviado ao olho da rua envolto numa bruma de mistério. Não bastasse a falta de explicação para a chegada, o ato que formalizou a saída atribui o desfecho ao teor de um dossiê identificado por 17 algarismos. Não há, por ora, nenhuma informação sobre o conteúdo do documento.
Assim, não se sabe por enquanto se é o caso de festejar a saída de um gestor ruim do comando da inteligência da Receita ou de temer a nomeação de um substituto bem pior. A única certeza disponível no momento é que o governo Bolsonaro trata os órgãos de controle da administração pública com uma transparência de vidro fumê.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.