Toffoli crê em fim da prescrição e em Papai Noel
Josias de Souza
29/10/2019 04h03
A correspondência de Toffoli carrega nas entrelinhas duas revelações incômodas. Numa, o ministro admite que a mudança na regra sobre prisão restaurará o cenário que leva à prescrição de crimes e, em consequência, à impunidade. Noutra revelação, mais inquietante do que a primeira, o presidente do Supremo Tribunal Federal sinaliza que acredita em fantasias. É como se, depois dos 50 anos, Toffoli alardeasse sua crença em Papai Noel.
Tudo bem, pois alguém que acredita que um Congresso apinhado de culpados e cúmplices será capaz de fechar a saída de emergência da prescrição pode acreditar em qualquer alucinação. Toffoli deveria inclusive enviar para o bom velhinho uma cópia da carta que endereçou a Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre.
Para azar de Toffoli, o brasileiro tornou-se um sujeito cético. Sabe distinguir as coisas. Já não confunde conversa mole com com profundidade, pose com densidade, cumplicidade com neutralidade, compadrio com moralidade, omissão com habilidade. O brasileiro já não confunde Supremo com divindade.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.